Espólio digital
PEDRO, OUTRO GRANDE
______________________________________
Data: Sat, 21 Jun 2003 23:19:31 +0100
De: veiriz@eeg.uminho.pt
Para: dna@dn.pt
Assunto: Mensagem para Pedro Rolo Duarte
Caro Pedro Rolo Duarte,
Costumo ler as suas Impressões Digitais porque me agrada a forma clara e amiga como escreve, não tanto pelas ideias que delas transparecem.
Em "O pior de Portugal" (Diário de Notícias, DNA, 14 de Junho de 2003, p. 4) eram já evidentes alguns laivos de pouca tolerância, para não dizer mesmo arrogância. Julgo que em "A blague dos blogues" (Diário de Notícias, DNA, 21 de Junho de 2003, p. 12) o problema se agravou. Caro Pedro, você já batia em alguma rapaziada da periferia unida em a "Periférica". Agora brinda-nos com alguns açoites à rapaziada da capital que, julgo, são seus subordinados aí no DNA. Por este andar, numa das suas próximas impressões, ataca-se a si próprio, quem sabe, se mantiver o estilo, com um texto intitulado a "A pior blague de Portugal".
Não lhe guardo qualquer inamizade, antes pelo contrário. Não posso, no entanto, deixar de manifestar algum repúdio pelas suas duas últimas crónicas. Deixe-me dizer-lhe que, mesmo sendo alheio à sua profissão, já tinha há muito notado que paira alguma preocupação no poder instalado em muitas redacções, algo que também a sua crónica exibe.
Caro Pedro, é uma ilusão pensar que grande parte do que se escreve nos blogues poderia ser publicado nos jornais. Isso não é verdade não só para os autores dos blogues que refere, como é de todo impossivel para a imensa mole de anónimos que escreve e lê na blogosfera.
Não vejo também que na blogosfera reine mais "vaidade pura" e "presunção" do que a sua. Devo ainda acrescentar que não concordo consigo quando afirma que "vale tudo num blogue, o que o torna imediatamente irrelevante e indiferente". O Pedro deveria perceber que cada blogue tem critérios de edição não necessariamente coincidentes com os seus mas, apesar disso, não menos válidos e respeitáveis que os seus. Cabe ao leitor fazer as suas escolhas. Porque carga de água o Pedro julga que "quem escreve, quem publica, quem edita" um blogue não efectua escolhas e não pondera as suas decisões editoriais? Julga o Pedro ter o dom da escolha editorial?
Parece-me que onde o Pedro mais se nega a si próprio e aos seus é quando afirma: "quando os profissionais do jornalismo se envolvem em blogues, estão a negar do seu trabalho e a viciar o jogo da liberdade". O que diz parece ser verdade quando aplicado à sua própria crónica. Ela sim, não presta um bom serviço ao "jogo da liberdade".
Não termino sem registar o maior paradoxo da sua crónica: o seu próprio título. Não seria bem mais enriquecedor para todos nós que as suas Impressões fossem mesmo Digitais? Junte-se a nós na blogosfera e será bem recebido.