Humor
OS FLUXOS DE CAIXA DO BARBEIRO DE NELSON DE MATOS
Nos Textos de Contracapa, Nelson de Matos, editor da Dom Quixote, relata o seguinte episódio em post publicado em 12 de Maio passado:
"Esta conversa, verdadeira, ilustra bem o que ainda se pensa do trabalho dos escritores, mas também da minha esforçada profissão.
- A crise está por aí... - diz-me o meu barbeiro, suspendendo o trabalho com um ar preocupado.
- É verdade, senhor Joaquim, parece que é verdade... respondo eu distraído.
- Mas o senhor doutor, certamente, antes de publicar os livros, cobra-lhes um adiantamento sobre as suas despesas...
Prevendo a confusão, decido-me a explicar-lhe.
- Não, senhor Joaquim, eu quando entrego os livros nas livrarias dou-lhes ainda um prazo de pagamento, normalmente 90 dias. Não lhes cobro nada adiantado.
- Não me refiro a isso - explicou o senhor Joaquim - refiro-me aos escritores... Certamente que quando eles lhe entregam os livros para publicar, o senhor doutor lhes há-de cobrar alguma coisa adiantado. A mim todos os fornecedores me cobram 40%, agora é a moda, sempre 40% do trabalho adiantado.
A confusão estava mesmo instalada. Nada a fazer senão clarificá-la.
- Não, senhor Joaquim, os escritores não pagam nenhum adiantamento. Eles entregam-me os seus livros (o seu trabalho), sou eu que normalmento lhes pago um adiantamento sobre as vendas dos seus livros.
Aí o senhor Joaquim abriu a boca de espanto:
- Então o senhor doutor publica-lhes os livros e ainda lhes paga por cima...!"