CULTURA I. Gestores atentos dão importância à cultura da sua organização e daquilo que a rodeia. A cultura organizacional é das variáveis de gestão menos visíveis mas, nem por isso, menos importante. Saber ler a cultura requer a compreensão do ambiente em que a organização opera, suas histórias, símbolos, estruturas, relações de poder, rituais, cerimónias, rotinas, artefactos, costumes. A literatura pode, neste exercício, ser uma fonte preciosa. Já se sabia que Agustina era, nesta matéria, uma referência para melhor se compreender o Douro, o Porto e as suas gentes. Aqui fica um extracto ilustrativo. Saibam os gestores compreender e descodificar os traços da cultura.
"O património, no Porto, é uma religião. Cultiva-se a fortuna como se fosse uma virtude, sendo a temperança a mais assistida. Houve tempo em que umas calças de flanela passavam de irmão a irmão e o smoking correspondia no rapaz ao vestido comprido na jovem de quinze anos. Saber fazer o laço do smoking era uma prova de virilidade. Pagar as quotas dos clubes era tão importante como ser mesário de uam ordem. As coisas mudaram mas há ainda, em círculos fechados, esse sentimento lírico da excepção que nada rende, a não ser a irmandade num mesmo destino cívico, um pouco aproximado ao sentimento feudal de inter-pares." (Agustina Bessa-Luís, O Princípio da Incerteza: Jóia de Família, Guimarães Editores, Lisboa, 2001, p. 68).
CULTURA II. A Francisca, a Linda e o Manuel Sá passaram lá por casa e, vejam só, as leituras que o Manuel trouxe consigo, dando-nos um ano para tamanho empreendimento: O Labirinto da Saudade: Psicanálise Mítica do Destino Português (Círculo de Leitores, 1988) e A Nau de Ícaro seguido de Imagem e Miragem da Lusofonia (Gradiva, Lisboa, 1999), ambos de Eduardo Lourenço; Vinte e Sete Ensaios (Círculo de Leitores, 1989) de Jorge de Sena; Eduardo Lourenço: O Regresso do Corifeu (Editorial Notícias, Lisboa, 1997) de Maria Manuela Cruzeiro; e O Ensaísmo Trágico de Eduardo Lourenço (Relógio D'Água, Lisboa, 1996) de José Gil e Fernando Catroga. Ao acaso começo por Ícaro mas ainda subsiste a dúvida se Lourenço deve ser consumido devagar e detalhadamente ou as leituras diagonais dos sublinhados do Manuel são suficientes.