2003-09-27
UM EDITOR INDEPENDENTE. Nelson de Matos, editor da Dom Quixote, e autor dos Textos da Contracapa publicou no seu blogue um texto interessantissimo intitulado Grupos Editoriais – Editores "Independentes", texto esse com que terminou recentemente a sua colaboração regular no DNA, suplemento do Diário de Notícias. Vale a pena ler o texto porque, reflectindo a larga experiência e o que julgo ser um longo percurso no seu sector de actividade, o autor toma uma posição declaradamente favorável a um profissionalismo que, todos os consumidores de livros o sabem, nunca esteve muito presente no sector da edição e da distribuição livreira. Em linguagem quase empresarial Nelson de Matos mostra ter percebido que considerar a presença das grandes casas editoras internacionais em Portugal como uma ameaça "é uma forma barroca de considerar o problema". A integração da sua Dom Quixote no Grupo Planeta, "o mais importante grupo editorial da Península Ibérica" (a propósito que outra editora que não uma chamada Dom Quixote haveria de seduzir os espanhóis?), fez-lhe ver o tipo de sinergias que é possível criar ao nível dos produtos, mercados, recursos humanos, recursos financeiros e por aí fora. Da leitura do seu texto fica, aliás, para nós muito claro que a Planeta possui muito provavelmente "objectivos de liderança do mercado, alguns deles [que] visam, inclusivamente, o objectivo mais largo de liderança em todo o espaço da língua portuguesa. Refiro-me ao Brasil e aos países africanos de língua oficial portuguesa." Não deixa também de ser curioso a forma como Nelson de Matos se refere a "muitas editoras designadas por “independentes”", realçando que tal designação deve ser clarificada, "dado que, para se manterem “independentes”, muitas destas empresas tiveram também de criar as “dependências” específicas que melhor lhes permitam resistir e actuar." Ou seja, percebe-se assim que nenhuma empresa é uma ilha e possui relações de maior ou menor dependência com outras empresas quer se tratem de grandes editoras, distribuidoras ou, quiçá, dizemos nós, bancos e outros credores. Ou seja, "todos compreendemos hoje que só obtendo resultados se garante a sobrevivência a médio e longo prazo, e que esta é uma regra a que nenhuma empresa (pequena ou grande, “independente” ou em Grupo) poderá fugir. Para isso, cada um cria as dependências que considera mais convenientes para salvaguarda da continuidade do seu trabalho. Até mesmo os editores que gostam de continuar a designar-se como “independentes”", refere Nelson de Matos. Apesar desta visão, subsiste em muitos editores e distribuidores livreiros uma perspectiva sobre o papel do Estado que é também, para utilizar as sábias palavras de Nelson de Matos, algo "barroca". Na verdade, esta coisa do preço fixo do livro, regimes fiscais mais favoráveis ou políticas de aquisição expansivas, raramente favorecem os bons distribuidores e editores.