2005-06-28

INVESTIGADORES EM REDE. O "workshop" sobre redes organizacionais realizado pela Faculdade de Economia do Porto durante o dia de ontem valeu a pena. Depois da abertura, efectuaram-se cinco comunicações. Na primeira, João Mota (Universidade Técnica de Lisboa) abordou o facto das empresas possuirem fronteiras permeáveis procurando incorporar os conceitos de competências, divisão do trabalho, especialização e coordenação no estudo das redes. Ricardo Madureira (Universidade de Vaasa, Finlândia) centrou a sua comunicação no papel dos contactos pessoais dos directores executivos nas relações interorganizacionais. De seguida, eu próprio abordei a estrutura do sector do calçado em Portugal como sendo constituído por duas redes geograficamente delimitadas, uma em torno de Felgueiras e outra em São João da Madeira. Explorando a dinâmica de relacionamento intra-rede e inter-redes, mais do que dar respostas procurei suscitar questões de investigação futura, nomeadamente: como se articulam comportamentos competitivos e cooperativos no seio da mesma relação?; o que distingue a relação entre organizações da relação entre redes? que barreiras encontram os promotores da cooperação em rede? qual o papel da localização/espaço na formação e desenvolvimento de redes? quais os padrões evolutivos e de reconfiguração das redes? Teresa Rolo (INTELI) debruçou-se sobre o sector automóvel em Portugal mostrando a dificuldade dos produtores portugueses de peças e componentes em ultrapassar a "terceira linha" de abastecimento dos grandes contrutores automóveis. O primeiro bloco de comunicações terminou com Cristina Baptista (Instituto Superior de Gestão) que apresentou o caso da fusão de duas empresas e de como esta fusão provocou um ajustamento da relação produtor-distribuidores, ao ponto de algumas destas relações terem evoluído favoravelmente enquanto outras (as mais antigas) se tornaram conflituosas. A parte da manhã terminou com uma comunicação de Luís Araújo (Universidade de Lancaster, Reino Unido), um dos principais responsáveis por muitos de nós andarmos a investigar estes temas. Numa comunicação que alternou momentos de humor com reflexões deveras ricas sobre o actual "estado da arte" no estudo das redes organizacionais, foram apresentadas oportunidades e desafios para estudar o tema, a saber: as competências e fronteiras da empresa; oferta, produção e inovação distribuída; e a dimensão espacial das redes industriais. Apesar das primeiras cinco comunicações terem sido de natureza predominantemente exploratória, não deixa de ser estimulante para a organização do evento verificar como alguns destes desafios identificados por Luis Araújo estavam presentes, de forma mais explicita ou implicita, em várias das anteriores comunicações. Depois duma discussão colectiva envolvendo os aproximadamente 40 participantes e do almoço na cantina da Faculdade de Engenharia, mesmo ali ao lado, a parte da tarde foi dividida em duas sessões de trabalho, uma com mestrandos e outra com doutorandos. Saiu-me a de doutorandos onde assisti a comunicações sobre temas de investigação diversos, uns próximos do paradigma das redes e outros nem por isso. Os nove investigadores que apresentaram os seus trabalhos em curso mostraram o quanto diversos são os temas em estudo: redes de inovação na biotecnologia; formação e dissolução de redes colaborativas; internacionalização no contexto de redes empreendedoras; relações com empresas de consultoria; inovação tecnológica no sector hospitalar; marketing de relacionamento em mercados de consumo; parcerias público-privadas; relevância das relações; e sobrevivência empresarial na indústria têxtil e do vestuário. Concluindo, um dia trabalhoso mas bem passado que merece ser repetido.
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