Prémio
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL
Por Vasco Eiriz
Na conjuntura actual faz sentido olhar para as organizações com uma visão ecológica. Nesta perspectiva ecológica, um conjunto de organizações é visto como um ecossistema no qual o ambiente exerce uma influência determinante. Num ecossistema existem espécies que se adaptam ao ambiente em que vivem e conseguem evoluir, enquanto outras não possuem essa capacidade de adaptação e se extinguem através de um processo de selecção natural.
Também no mundo empresarial, a volatilidade ambiental em que vivemos provoca uma selecção natural. Neste contexto, a taxa de mortalidade empresarial cresce e as empresas que sobrevivem, mesmo em dificuldade e com pouca margem de escolha da sua estratégia, procuram minimizar as consequências da intempérie. Umas adaptam-se às circunstâncias do mercado, outras procuram posições de refúgio que as protejam, e outras desenvolvem novas estratégias mais favoráveis ao contexto em que vivem.
Portugal está actualmente a passar por um desses processos. A selecção natural está em curso, por exemplo, num dos sectores de grande importância em termos de emprego e exportações na economia portuguesa: a indústria têxtil e vestuário. Mas ocorre também noutros sectores e organizações: distribuição retalhista; indústria de calçado; e, só para citar alguns dos mais visíveis, empresas estrangeiras cá instaladas. No limite, a selecção natural ocorre em todos os sectores e organizações ainda que essa intensidade varie com as circunstâncias ambientais, também elas distintas entre sectores e organizações.
No caso da indústria têxtil e vestuário, a selecção natural é incontornável. Esta selecção parece ser mais evidente com o fim do acordo multifibras em 31 de Dezembro passado, mas, em rigor, está em curso há já vários anos. Além do fim do acordo multifibras, contribuíram para esta selecção mudanças ambientais tão distintas como o aumento dos custos da mão-de-obra, a entrada da China na Organização Mundial do Comércio, a modificação dos padrões de consumo, ou a alteração nas estruturas de distribuição grossista e retalhista. Ora, a activação das cláusulas de salvaguarda previstas nos acordos de comércio internacional, em si também uma circunstância ambiental, poderá aliviar por algum tempo a pressão ambiental sobre as empresas portuguesas. Mas, não eliminando essa pressão, de maneira nenhuma vai travar a selecção em curso. Daí que a visão ecológica da organização seja particularmente evidente na indústria têxtil e de vestuário portuguesa.
Os processos de selecção natural podem ser socialmente dolorosos com consequências negativas no curto prazo em termos de emprego e riqueza. Por outro lado, a selecção natural pode promover os ajustamentos no tecido empresarial necessários para sustentar o crescimento da riqueza de forma duradoura no longo prazo. Neste caso, as organizações que encerram libertam recursos para as que resistem e para outras actividades que encontram assim melhores condições para florescer. As espécies mais capazes adaptam-se, algumas transformam-se, as que não se extinguem tornam-se mais robustas, e surgem novas espécies. Ou seja, a selecção natural pode criar condições mais favoráveis ao desempenho e prosperidade.
Ora, numa paisagem em que o encerramento de empresas é recorrente devemos ter a capacidade de interpretar não só dificuldades mas também sinais positivos e oportunidades. Neste sentido, um ambiente favorável aos negócios deve criar condições favoráveis ao encerramento de empresas e não prolongar a sua sobrevivência artificialmente. Desde que tenham os seus compromissos em dia e respeitem a lei, qualquer empresa deve poder encerrar livremente.
Há relatos que mostram que isso não está a suceder. Se, por exemplo, são criadas barreiras à saída duma empresa estrangeira, está a dar-se um sinal negativo para a captação de outros investimentos estrangeiros. Se, noutro exemplo, um empresário desperdiça as suas melhores energias para liquidar uma sociedade, não encontra o tempo e motivação necessárias para criar riqueza noutras empresas. No limite, numa perspectiva ecológica, não sendo facilitado o encerramento de empresas, dificilmente se consegue incentivar a criação de riqueza e de novas empresas.
Referência original: Eiriz, Vasco (2005), Ecologia organizacional, Prémio, (3 de Junho)
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL
Por Vasco Eiriz
Na conjuntura actual faz sentido olhar para as organizações com uma visão ecológica. Nesta perspectiva ecológica, um conjunto de organizações é visto como um ecossistema no qual o ambiente exerce uma influência determinante. Num ecossistema existem espécies que se adaptam ao ambiente em que vivem e conseguem evoluir, enquanto outras não possuem essa capacidade de adaptação e se extinguem através de um processo de selecção natural.
Também no mundo empresarial, a volatilidade ambiental em que vivemos provoca uma selecção natural. Neste contexto, a taxa de mortalidade empresarial cresce e as empresas que sobrevivem, mesmo em dificuldade e com pouca margem de escolha da sua estratégia, procuram minimizar as consequências da intempérie. Umas adaptam-se às circunstâncias do mercado, outras procuram posições de refúgio que as protejam, e outras desenvolvem novas estratégias mais favoráveis ao contexto em que vivem.
Portugal está actualmente a passar por um desses processos. A selecção natural está em curso, por exemplo, num dos sectores de grande importância em termos de emprego e exportações na economia portuguesa: a indústria têxtil e vestuário. Mas ocorre também noutros sectores e organizações: distribuição retalhista; indústria de calçado; e, só para citar alguns dos mais visíveis, empresas estrangeiras cá instaladas. No limite, a selecção natural ocorre em todos os sectores e organizações ainda que essa intensidade varie com as circunstâncias ambientais, também elas distintas entre sectores e organizações.
No caso da indústria têxtil e vestuário, a selecção natural é incontornável. Esta selecção parece ser mais evidente com o fim do acordo multifibras em 31 de Dezembro passado, mas, em rigor, está em curso há já vários anos. Além do fim do acordo multifibras, contribuíram para esta selecção mudanças ambientais tão distintas como o aumento dos custos da mão-de-obra, a entrada da China na Organização Mundial do Comércio, a modificação dos padrões de consumo, ou a alteração nas estruturas de distribuição grossista e retalhista. Ora, a activação das cláusulas de salvaguarda previstas nos acordos de comércio internacional, em si também uma circunstância ambiental, poderá aliviar por algum tempo a pressão ambiental sobre as empresas portuguesas. Mas, não eliminando essa pressão, de maneira nenhuma vai travar a selecção em curso. Daí que a visão ecológica da organização seja particularmente evidente na indústria têxtil e de vestuário portuguesa.
Os processos de selecção natural podem ser socialmente dolorosos com consequências negativas no curto prazo em termos de emprego e riqueza. Por outro lado, a selecção natural pode promover os ajustamentos no tecido empresarial necessários para sustentar o crescimento da riqueza de forma duradoura no longo prazo. Neste caso, as organizações que encerram libertam recursos para as que resistem e para outras actividades que encontram assim melhores condições para florescer. As espécies mais capazes adaptam-se, algumas transformam-se, as que não se extinguem tornam-se mais robustas, e surgem novas espécies. Ou seja, a selecção natural pode criar condições mais favoráveis ao desempenho e prosperidade.
Ora, numa paisagem em que o encerramento de empresas é recorrente devemos ter a capacidade de interpretar não só dificuldades mas também sinais positivos e oportunidades. Neste sentido, um ambiente favorável aos negócios deve criar condições favoráveis ao encerramento de empresas e não prolongar a sua sobrevivência artificialmente. Desde que tenham os seus compromissos em dia e respeitem a lei, qualquer empresa deve poder encerrar livremente.
Há relatos que mostram que isso não está a suceder. Se, por exemplo, são criadas barreiras à saída duma empresa estrangeira, está a dar-se um sinal negativo para a captação de outros investimentos estrangeiros. Se, noutro exemplo, um empresário desperdiça as suas melhores energias para liquidar uma sociedade, não encontra o tempo e motivação necessárias para criar riqueza noutras empresas. No limite, numa perspectiva ecológica, não sendo facilitado o encerramento de empresas, dificilmente se consegue incentivar a criação de riqueza e de novas empresas.
Referência original: Eiriz, Vasco (2005), Ecologia organizacional, Prémio, (3 de Junho)