CAPELAS. O pequeno conflito em volta do envolvimento do MIT, uma prestigiada universidade dos EUA, no plano tecnológico é sintomático da forma como interesses conflituosos podem chocar entre si. Mostra também que muitos decisores, eleitos ou não, não estão acima dos seus próprios interesses ou interesses dos grupos a que pertencem. Basicamente, na interpretação de Empreender, o conflito resume-se em poucas palavras. O coordenador do plano, professor na Universidade Nova de Lisboa, demitiu-se da função há já algumas semanas, aparentemente em discordância com algumas das opções feitas politicamente pelo Governo. O Governo terá sido apanhado desprevenido com a demissão mas o ministro que tutelava a àrea, eleito deputado pelo distrito de Aveiro, rapidamente sacou um coelho da cartola e ficou-se a saber que Lebre de Freitas, também ele professor de economia, neste caso na Universidade de Aveiro, assumiria a coordenação do plano. Foi por poucos dias porque passado algum tempo, outro professor, neste caso de Évora, e já com curriculum político no PS, foi chamado a coordenar a coisa. Pois bem, há dias, Tavares, o primeiro coordenador que bateu com a porta, terá aproveitado a presença de Sócrates numa conferência do The Economist para o confrontar com a discordância de um ministro quanto ao envolvimento do MIT no plano tecnológico. Sócrates respondeu bem e fez-lhe notar que quem toma decisões políticas é o Governo e não qualquer funcionário público. No mesmo dia ou coisa que o valha, o reitor da Universidade Nova de Lisboa veio defender a preparação da sua universidade para colaborar com o MIT e gerir a coisa. Ontem mesmo, Mariano Gago, também ele professor, neste caso na Universidade Técnica de Lisboa, não foi nada gago e veio reforçar as palavras do seu chefe e referir que Tavares se terá portado mal e posto em causa os interesses nacionais! Pois bem, para qualquer observador, por menos atento que seja, só poderá imaginar que a referência do primeiro coordenador da coisa era feita ao ministro da economia, deputado eleito por Aveiro, talvez menos motivado para a solução do MIT do que para soluções, tipo Aveiro e outras soluções domésticas. Do outro lado da barricada há quem advogue o envolvimento do MIT em parceria com a sua própria universidade. Enfim, se Empreender não está enganado nos factos, o leitor que faça o seu juízo.