2006-11-24

Choradeira

"A comoção que já estava instalada sobre o corte de verbas no Orçamento de Estado, mais os resultados ontem divulgados da avaliação do Ensino Superior, apenas confirmam aquilo que todos suspeitavam: as universidades são um assunto demasiado importante para serem confiados ao governo dos que por lá andam.
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Mas quando pensávamos que, ali sim, os projectos e os objectivos eram definidos de acordo com os recursos disponíveis, eis que assistimos a uma choradeira sem fim, de reitores a ilustres professores, sobre as verbas que nem sequer cobrem os salários.
Até pode ser. Mas, repito, de académicos, de homens que fazem do método a base da sua profissão, exige-se muito mais do que a reivindicação. E, até hoje, não se vislumbrou o mínimo esforço para colocar a discussão no único patamar em que é admissível que ela seja realizada.
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Até por pudor, deveriam os responsáveis pela gestão das universidades portuguesas evitar pedir mais dinheiro sem exigir resultados.
Mas tal não acontece. E não acontecerá, por livre e espontânea vontade dos próprios, porque é o governo da universidade que está em xeque. Sob a capa da autonomia financeira, o país perdeu a noção das capacidades que possui nas suas escolas.
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Quem comparar a universidade com a realidade das nossas empresas, não tem a certeza onde é pior a situação. Mas duas coisas são certas. Uma é que não existe uma empresa em Portugal com tão grande número de pessoas qualificadas como as universidades. Quantas contam com meio milhar de funcionários licenciados nos seus quadros? Uma? Duas?
A outra verdade inquestionável é sobre o destino certo das medíocres e incompetentes: a empresa abre falência, a universidade pede reforço de verbas."


Figueiredo, Sérgio (2006). "Editorial: Ricas universidades", Jornal de Negócios (23 de Novembro): 3

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