2006-11-30

Connectis

A subjectividade no conhecimento
Por Miguel Gonçalves

Numa das minhas viagens ao blogue Empreender, descobri um ícone denominado citador. Ao fazer um clique, em escassos segundos, fui parar a um site. Naveguei durante alguns minutos e quando dei por mim, estava eu, no século XVII, algures na Inglaterra onde encontrei um poeta chamado John Milton, que dizia: “onde há uma grande vontade de aprender, haverá necessariamente muita discussão, muita escrita, muitas opiniões; pois as opiniões de homens bons são apenas conhecimento em bruto”.

Compreender o misto de opiniões constitui um marco importante na gestão do conhecimento. Entender que existem diversos pontos de vista, interpretações diferentes, distintas abordagens para o mesmo contexto, assegura que a empresa não ignore este facto. Pelo contrário, ao haver uma percepção clara, objectiva e precisa, de tais divergências, a organização terá uma perspectiva mais elucidativa no combate à subjectividade, por forma a criar um entendimento comum, que visa ultrapassar eventuais constrangimentos, com o objectivo de alcançar ganhos exponenciais.

A existência de divergências poderá prejudicar ganhos potenciais; a não resolução deste "handicap" potencia uma heterogeneidade de interpretações, uma completa desarrumação do conhecimento, que poderá influenciar negativamente a vantagem competitiva e o sucesso empresarial. Por exemplo, os diferentes pontos de vista poderão advir das múltiplas experiências profissionais ou de posições hierárquicas distintas. Ou seja, os gestores terão uma perspectiva prática, direccionada para determinados aspectos empresariais, a qual será, certamente, divergente, com a experiência dos trabalhadores de uma linha de montagem. No entanto, ambas as perspectivas são essenciais e vantajosas para o sucesso da empresa. O conhecimento é gerado pelo entendimento comum de diversos pontos de vista.

Para se atingir os objectivos da empresa, é necessária uma comunicação eficaz ao longo das diferentes hierarquias da organização. Gerar este fluxo de comunicação por vezes pode ser complicado. Assim, a comunicação deverá ser feita nos dois sentidos. É primordial que a mensagem não sofra distorções resultantes de potenciais ambiguidades, e que a mesma, ao fluir de níveis hierárquicos superiores para níveis inferiores seja compreendida de forma objectiva, exacta e rigorosa. Por outro lado a valorização ou a sobreavaliação do estatuto e/ou nível hierárquico poderá criar e alargar fossos entre os colaboradores de diferentes níveis hierárquicos, potenciando débeis entendimentos, frágil partilha de conhecimento e ineficácia na comunicação.

Em suma, para que a subjectividade não influencie de forma nefasta o conhecimento, dever-se-á ter capacidade de compreendê-la, evitar interpretações de vários níveis, existir um fluxo de comunicação transparente e multi-direccional, agrupar as várias experiências subvalorizando as posições hierárquicas e sincronizar os objectivos da empresa com o intuito de possibilitar um entendimento comum por forma a permitir a criação de valor e conhecimento eficaz.

Miguel Gonçalves, licenciado em Gestão de Empresas, pelo Instituto Superior de Línguas e Administração de Santarém; é Técnico Superior no Instituto do Emprego e Formação Profissional; possui um mestrado em Contabilidade e Administração promovido pela Universidade do Minho, onde apresentou a dissertação intitulada “Redes Institucionais de Conhecimento: Estudo de uma Rede na Indústria Têxtil e do Vestuário”.

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