2006-12-05

Oportunidades desperdiçadas

Estou desolado. Tive a chave na mão do jogo desta noite e desperdicei-a. Com o resultado que a esta hora já se conhece. Explico-me.


Quando ao início da noite de sexta-feira passada me dirigi ao bar Atlântico do Praia D'El Rei Marriott – único local do hotel em que era possível assistir ao Sporting – Benfica – fiquei surpreso, não tanto pelo bar estar abarrotado, mas porque me deparei com uma boa dúzia de rapazes vestidos de vermelho. Na primeira impressão fiquei convencido que iria ter ali uma espécie de folclore futebolístico do Benfica. "Azar o meu", pensei.

Mas a primeira impressão foi rapidamente atenuada quando me sentei no bar. Ali mesmo no canto direito, precisamente no meio de dois rapazes de vermelho, verifiquei que aquele vermelho não tinha nada a ver com o Benfica. Eram estrangeiros. Pela altura descomunal de alguns dos moços, pela pronúncia e pelo vermelho algo desbotado dos equipamentos, suspeitei que fosse uma qualquer equipa polaca de voleibol, andebol ou coisa parecida.

Aqueles jovens trocavam demasiadas impressões sobre o jogo da noite. O único polaco – ou o que quer que fosse aquela língua – que lhes percebi foi quando um deles disse Paulo Bento. Não duvidei que se referiam ao nosso Paulo Bento, não ao XVI de Roma. Logo a seguir, para minha grande estupefacção, o lateral esquerdo do Sporting abriu alas para Simão selar o 2-0. Aí, os meus vizinhos de balcão, quando me viram sair do bar com cara de poucos amigos, não devem ter ficado com dúvidas por quem torcia. Fui-me deitar.


A maior surpresa deu-se a caminho do quarto. Os écrans anunciavam para a manhã do dia seguinte uma das atracções do hotel: o Spartak de Moscovo iria treinar pelas 11 horas da manhã. Afinal, aqueles jovens não eram polacos, nem jogavam desportos esquisitos. Eram russos, jogavam futebol e, ainda por cima, tinham um nome fantástico: Spartak. O quanto deve ser gratificante ser adepto duma equipa chamada Spartak, nome que herda de Espártaco. O clube foi criado na Moscovo de 1922 ligado à indústria e sindicatos do sector alimentar. Até o meu Simão, enquanto eu escrevo e assistimos aos golos que o Sporting vai sofrendo nesta noite invernosa, para meu desgosto me diz que o Supertaque de Moscovo é o melhor. "Quem me dera ter este discernimento infantil de estar sempre do lado dos vencedores", ocorre-me.

Mas eu não sou do Spartak. Sou do Sporting e estou desolado. A minha oportunidade foi desperdiçada nos dois dias seguintes quando a equipa tomou o pequeno-almoço comigo no hotel. Ocorreu-me um método para ajudar a minha equipa, também ele um método demasiado russo e na moda. Mas pareceu-me excessivo contaminar o pequeno-almoço daqueles jovens espartacistas com Polónio 210. "Afinal aquela equipa não era da Polónia, mas poderia misturar-lhes Polónio no pequeno-almoço", imaginei.




Um hotel de cinco estrelas tem muita coisa, mas não encontrei Polónio à mão. Fiquei depois esperançado com a tempestade do fim-de-semana. A chuva podia dar uma ajuda e talvez provocar lesões nos treinos. Mas sempre que via 15.º C no termómetro do carro, não tinha dúvidas que para os russos estava um clima primaveril. Só o brasileiro – sim, porque estas equipas têm sempre um brasileiro – se poderia queixar. Ocorreu-me ainda que a piscina – a interior ou a exterior –, o "fitness center" ou até o "spa" favoreciam outro estratagema qualquer. Ou a praia, mesmo ali ao lado.





Mas como bom sportinguista desperdicei todas as oportunidades ao meu alcance.

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