Talvez muitos dos leitores de Empreender não estejam familiarizados com o fenómeno de que dou conta nestas linhas. Eu próprio já não me recordava de que existiam lojas que nesta altura do ano encerravam portas para "balanço". Até hoje. Para mim sempre foi um fenómeno curioso verificar que um retalhista encerrava para "balanço". Era ainda mais curioso porque lá em casa – família ligada ao comércio – nunca se encerrou portas para "balanço". Nem sequer para férias, quanto mais para balanço! Recordo-me de ajudar a contar caixas e caixas de mercadoria fora do horário de atendimento à clientela. Depois, nas embalagens abertas tínhamos de contar o número de exemplares daquele artigo em cada caixa. Eram bons tempos, aqueles que vivi a fazer contagens já lá vão algumas dezenas de anos, posso hoje afirmar sem grande exagero. Entretanto, como não quis seguir essa carreira, fui estudar. Talvez nas disciplinas de contabilidade percebi a diferença entre um balanço e um inventário. Conclui que todos os comerciantes que encerravam para balanço andavam enganados porque, em bom rigor, encerravam para inventário.
Foi por isso que fiquei surpreendido ver hoje um retalhista especializado, posicionado num segmento superior, "encerrado por motivos de inventário entre 2 e 4 de Janeiro". Como cliente fiquei estupefacto mas simultaneamente congratulei-me por aquele retalhista não ter confundido um balanço com um inventário. Mesmo assim, perplexo, questiono-me como é possível perder-se três dias de negócio para inventariar candeeiros, por muito desenho que eles tenham. Afinal de contas, entre a hora de encerramento das suas lojas no dia 30 e a abertura no dia 2 tinha havido tempo de sobra para inventariar.
Foi por isso que fiquei surpreendido ver hoje um retalhista especializado, posicionado num segmento superior, "encerrado por motivos de inventário entre 2 e 4 de Janeiro". Como cliente fiquei estupefacto mas simultaneamente congratulei-me por aquele retalhista não ter confundido um balanço com um inventário. Mesmo assim, perplexo, questiono-me como é possível perder-se três dias de negócio para inventariar candeeiros, por muito desenho que eles tenham. Afinal de contas, entre a hora de encerramento das suas lojas no dia 30 e a abertura no dia 2 tinha havido tempo de sobra para inventariar.
Recordei-me depois dos meus tempos de auditor. Naqueles tempos, logo pelas sete da manhã do dia 1 de Janeiro estavam todas as equipas de auditoria nos armazéns dos clientes a controlar inventários porque, evidentemente, no dia 2, qualquer retalhista que se preze tinha que ter tudo a funcionar em pleno. Mas, afinal, concluo agora, eu tinha decidido prosseguir estudos para, entre outros motivos, evitar seguir as pisadas paternas e eis que uma licenciatura depois ainda ajudava a inventariar! É certo que já não era numa empresa familiar e havia os requintes duma multinacional anglo-saxónica, mas inventários são inventários e serão sempre inventários.
Recordo-me, aliás, de numa dessas auditorias ter encontrado no Feira Nova, uma das empresas clientes da firma em que trabalhei, uma palete de 1000 litros de leite por inventariar. Foi pena, porque com essa descoberta devo ter estragado as rabanadas de alguns reis magos. Depois, naquele tempo havia as partidas que se pregavam aos auditores juniores como, por exemplo, pedir-lhes que contassem pregos.
Também já lá vai esse tempo, mas, agora que me lembro, fico com a ideia que estamos sempre a regressar ao mesmo lugar. Parte da semana passada entre o Natal e o fim de ano foi para arrumar, qual inventário, algumas das paletes de brinquedos do Simão.