Duas teses de doutoramento para ler. Não sabia por qual começar mas a escolha não era indiferente pois o estudo das aproximadamente 500 páginas de qualquer uma delas requeria tempo, continuidade, envolvimento. Mesmo sem serem lidas em simultâneo, a comparação é inevitável mesmo que feita sem plena consciência. Se lidas em simultâneo então é interessante triangular fontes, dados e métodos: de que forma teria decorrido uma das pesquisas se nela fossem aplicados os métodos de pesquisa, tipo de dados e fontes empregues na outra pesquisa? Alcançaria as mesmas conclusões? Este é, sem dúvida, um bom teste de validade e, por isso, uma vantagem potencial de ler duas teses em simultâneo. Do mal o menos.
Havia um outro colega que também integrava os dois júris. Enviei-lhe uma mensagem a perguntar qual sugeria ler em primeiro lugar. Talvez ele tivesse uma noção mais precisa das datas das reuniões preliminares dos júris. Da resposta ficou a ideia que também ele não só não tinha iniciado as leituras como também não tinha tomado uma decisão de qual ler em primeiro lugar. Aliás, não tinha qualquer informação sobre a marcação das reuniões prévias dos júris. Tinha perfeita consciência do meu dilema mas, talvez por ser bem mais experiente, não estava particularmente preocupado com a ordem.
Em todo o caso, as provas seriam depois das férias. Dada a indefinição, comecei pela tese que chegou em primeiro lugar, embora nada garantisse que fosse esta a primeira a ser avaliada. Era a decisão mais sensata. Inadiável.
Havia um outro colega que também integrava os dois júris. Enviei-lhe uma mensagem a perguntar qual sugeria ler em primeiro lugar. Talvez ele tivesse uma noção mais precisa das datas das reuniões preliminares dos júris. Da resposta ficou a ideia que também ele não só não tinha iniciado as leituras como também não tinha tomado uma decisão de qual ler em primeiro lugar. Aliás, não tinha qualquer informação sobre a marcação das reuniões prévias dos júris. Tinha perfeita consciência do meu dilema mas, talvez por ser bem mais experiente, não estava particularmente preocupado com a ordem.
Em todo o caso, as provas seriam depois das férias. Dada a indefinição, comecei pela tese que chegou em primeiro lugar, embora nada garantisse que fosse esta a primeira a ser avaliada. Era a decisão mais sensata. Inadiável.
As provas realizaram-se. Passaram-se, entretanto, alguns meses. Repentinamente, dois novos convites com um intervalo de poucos dias. Outras duas teses, em universidades diferentes. Estranho fenómeno; o que se passará para surgirem duas teses de doutoramento de cada vez? Meio a brincar, meio a sério, num dos casos ouso questionar quantas páginas tem a tarefa. Inteligentemente repondem-me que páginas úteis são menos de 300, o que me leva a suspeitar de ser outro volume na casa das 500 páginas.
Nestas coisas, ao contrário de outros, ainda penso que ser convidado para um júri de doutoramento é motivo de honra e reconhecimento. Há quem se escape a estes júris mas até hoje nunca tive motivo válido para recusar um destes convites. Que assim seja.
As duas teses acabam por chegar pelo correio em datas distintas. Mas, precisamante quando conclui a preparação da arguência duma delas chegou a outra tese. O certo é que preparar provas desta natureza requer trabalho. Não é frequente, mas já me ocorreu suspeitar de colegas que não lêm a tese ou então dão-lhe uma leitura na diagonal. Mas esse não é o meu caso; se o fizesse desrespeitava o candidato, demais colegas do júri, e a mim próprio. Avaliar adequadamente uma tese de doutoramento requer empenho, trabalho, estudo. A prova da primeira tese é amanhã. A outra já repousa desde ontem aqui em frente na secretária. E olha ameaçadoramente para mim.