Eu e a Sofia temos, em média, bem menos de 20 anos, e por isso fazemos parte do "target" do Curto Circutiro da SIC Radical. E a verdade seja dita; divertimo-nos muito.
Mas agora que a Sofia dorme mais uns minutos, escrevo estas linhas para vos dar conta de "targets", "product placement" e da recordação que o programa me suscita. De facto, é deveras surpreendente como este programa - certamente muito popular no seu "target" - é utilizado para actividades de comunicação de marcas. A utilização do Curto Circuito para promoção é de tal forma intensa que só pode merecer o elogio por conseguir aliar alguns conteúdos de entretenimento deveras atractivos com tanta promoção. Ele é o jornal gratuito que aparece atrás dos apresentadores, os cabazes de compras de retalhistas da praça, as consolas, os jogos, os DVDs, as bebidas, os filmes e até, imagine-se, distribuidores de combustíveis a apostar fortemente neste segmento.
A fórmula é deveras interessante e, como digo, até diverte. Mas, pensando bem, no fundo, bem lá no fundo, a coisa não foge em demasia às televendas da madrugada. Para ser completamente sincero, a mim faz-me lembrar o dia de feira na minha terra. Nesse dia, instalava-se no centro do campo da feira uma enorme carrinha que era subitamente transformada em palco e, qual leilão, ali mesmo eram vendidos cobertores - sim, cobertores - pela melhor oferta. Nuns casos, havia senhoras que levavam um cobertor com uma bata oferecida, noutros o cobertor era comprado com a oferta de talheres, lençóis ou que quer que fosse. Aqueles leilões também me divertiam imenso. Mas, pensava sempre que tudo aquilo não passava duma grande estupidez.
Hoje, na substância, o Curto Circuito não é muito diferente daquele espectáculo. Com algumas diferenças óbvias, no entanto. Por exemplo, o facto de ser fornecido por um operador de TV por cabo/satélite e não decorrer num piso de terra batida na província. Além disso, Alvim e Solange fazem muito melhor figura que o vendedor do banho da cobra que impingia cobertores a aldeões desatentos da minha terra. Em contrapartida, nós, os novos aldeões, não somos muito diferentes.