Por Vasco Eiriz
Fora de MacModa
A Maconde devia ser um estudo de caso obrigatório na indústria portuguesa. E os sucessivos governos deveriam também utilizar os casos de insucesso para efeitos de demonstração. Há não muito tempo, era – e provavelmente ainda é – a maior empresa portuguesa produtora de vestuário. Durante anos cresceu: expandiu internacionalmente, abriu lojas em Portugal, entrou em Espanha, abasteceu-se noutros países. Na ânsia do crescimento ou quiçá da reformulação do negócio aventurou-se no perigoso caminho da diversificação e entrou noutros segmentos do retalho. Não lhe conheço os investimentos industriais mas apostaria que foi uma empresa generosamente financiada pelo Estado e pela União Europeia. Passados anos, fica-se a saber que acabou recentemente de vender todas as suas largas dezenas de lojas, muitas delas a concorrentes locais com a estaleca da Zara, H&M e C&A. Fechou fábricas e abandonou a aventura da diversificação com a Tribo. O que resta de tudo isto não é claro, mas o futuro o dirá. E sabem porque acho que o caso devia de ser de estudo obrigatório? Porque me parece um bom exemplo do lento definhamento da indústria portuguesa, não só no têxtil e vestuário mas em muitos outros sectores. Estude-se. Compreenda-se porque falhou. O insucesso é uma fonte excelente de aprendizagem.
Fora do mercado
Há outro caso que mostra que o insucesso é mais frequente do que o sucesso. Tomei recentemente conhecimento do insucesso duma outra empresa. E avaliando o que soube, conclui que a queda não só foi grande como – costuma dizer-se – caiu em má posição. Fiquei com pena porque tive um contacto bastante privilegiado com aquela empresa e desejava que tivesse sido bem sucedida. Tinha orientado o projecto de fim de curso de um dos sócios fundadores. Naquela altura, a empresa estava já na sua fase de expansão e foi precisamente no âmbito dessa expansão que foi definido o projecto daquele aluno. Tratava-se, neste caso, de inventariar as alternativas estratégicas de expansão e consolidação do negócio. Havia nesta empresa várias alternativas de crescimento, mas aquela que estava a ser perseguida era a expansão territorial em Portugal com abertura em várias cidades do país. Sugeri que fosse trabalhada uma das várias alternativas de expansão que a empresa poderia ainda seguir. Era esse, por exemplo, o caso do lançamento de novos produtos e serviços, mas a opção de crescimento escolhida foi a entrada em Espanha. Rapidamente percebi que não iríamos chegar a um relatório brilhante e tornou-se para mim claro que aquele aluno estava naturalmente mais preocupado com a sua empresa do que com a conclusão do curso. Aliás, estava convencido que ele tinha melhores capacidades empreendedoras no domínio da gestão do que propriamente na elaboração de um relatório de qualidade dentro dos prazos estabelecidos. Quando assim é, o orientador dá o benefício da dúvida e compreende as razões superiores do aluno, mas, na verdade, sempre desejei e acreditava que ele fosse mais profissional com a sua empresa do que com o seu projecto de fim de curso. Agora que tomo conhecimento do sucedido, temo que não tenha sido assim. Pelos vistos, ao insucesso empresarial da empresa ao fim de três anos de actividade junta-se uma saída atribulada e mal gerida do negócio. Á semelhança da Macmoda, julgo que também haveria muito para aprender com esta experiência. Não duvido que aquele aluno aprendeu bem mais com o seu falhanço empresarial do que com o relatório de estágio em que o orientei.
Fora de horas
Ao contrário dos dois casos anteriores, existem empresas que não descasam e que encontram no sucesso o estímulo para continuarem a explorar vias de crescimento e competitividade. Daí que assinale como deveras inteligente a opção da McDonalds em alargar o horário de abertura dos seus restaurantes. Desde 2003, mais de 90 por cento dos 13700 McDonalds no EUA alargou o seu horário, ao ponto de 40 por cento deles nunca encerrar. Durante 24 horas por dia, sete dias por semana. Com esta opção, aquela que já é a maior cadeia mundial de restauração continua a crescer. Não de país para país; de cidade para cidade; ou de bairro para bairro. Em vez disso, expande do almoço e jantar para o pequeno-almoço, para a ceia e para os inúmeros momentos de refeições de que muitos nichos do mercado têm necessidade fora de horas. São os trabalhadores por turnos, transportadores, pessoal de saúde, empregadas de limpeza, enfim todas as pessoas que necessitam duma refeição que, por pequena que seja, possa ser servida fora do horário 12-14 ou 19-21. É a actividade económica "tout-court" que é como quem diz ininterruptamente. Isto também é inovação.
Distribuição de Dividendos, uma coluna com estatutos desblindados que não necessita de autorização da assembleia geral para distribuir dividendos e garante OPAs céleres.