Por Vasco Eiriz
Carrefour, volta por favor
Ainda recentemente me congratulei com a abertura duma loja Carrefour em Viana do Castelo pelas implicações positivas que isso poderia ter para a cadeia de abastecimentos duma outra loja Carrefour de que sou cliente. Rejubilei, mas o certo é que temo que a notícia então veiculada não seja verdadeira. Tanto mais que, soube recentemente, o Carrefour – segundo maior retalhista alimentar do mundo, a seguir à norte-americana Wal-Mart – estará de malas aviadas para sair de Portugal. Aparentemente, para prejuízo de todos os consumidores e benefício de alguns operadores, as 12 lojas lusas deverão ser alienadas, ao que parece devido à sua baixa rentabilidade. Tenho pena porque ainda me lembro bem da inovação introduzida em Portugal pela primeira loja do Carrefour, aberta em Telheiras/Lisboa há uns bons 20 anos. Recordo-me bem porque na altura os hipermercados davam ainda os primeiros passos em Portugal, e o Carrefour teve o dom de me disponibilizar uma série de iguarias a que não estava habituado. Pois bem, ao que parece isso vai acabar. Resta-nos esperar que a Autoridade da Concorrência avalie bem o processo de alienação, limitando o risco de algum operador assumir posição dominante, senão em todo o mercado, pelo menos em alguns mercados geograficamente limitados, como, imagino, possa acontecer em algumas cidades. Suspeito de riscos elevados pelo menos em Braga e Aveiro. A acompanhar.
P.S.: já depois de ter escrito este texto, soube hoje mesmo, curiosamente no exacto momento em que o revia, que "a Sonae comprou o Carrefour", dito assim pelo notíciário das 8:00 horas da Antena 1.
Bocas-de-incêndio
Há um episódio ocorrido recentemente num loteamento industrial que revela bem o perfil do português e, simultaneamente, do Estado em que vivemos. Na sua plenitude, esse episódio ilustra como somos enquanto sociedade, na nossa forma de estar e resolver problemas. É, no limite, um excelente exemplo de como actuam pessoas (individuais, colectivas, públicas, privadas) ao arrepio da lei e do mais elementar bom senso. Uma espécie de "salve-se quem puder" que caracteriza muitos comportamentos que por aí vagueiam. O episódio conta-se em duas penadas. Recentemente, a empresa Águas de Barcelos detectou que era roubada água nas bocas-de-incêndio que fazem parte da infra-estrutura de um loteamento industrial. Havia, inclusive, suspeitas de quem eram os prevaricadores. Estes, evidentemente, ao praticar um roubo, estavam a infringir a lei e deveriam ser punidos por isso. Diria o bom senso que a situação fosse averiguada, fossem apuradas responsabilidades e que a justiça funcionasse. Mas, não. Como todos sabemos, a elementaridade que é pedir o normal funcionamento da justiça é, no Portugal contemporâneo, uma quase utopia. Vai daí, a Águas de Barcelos – uma empresa municipal, saliente-se – não se fez rogada: destruiu as bocas-de-incêndio! Não vá continuar a roubar-se água. Os prejuízos materiais que daí resultaram à custa de todos parecem não importar; os riscos da falta de meios para combater algum incêndio que deflagre também parecem não ser coisa relevante. Objectivamente ficaram prejudicadas as empresas instaladas no loteamento. No limite, o não cumprimento do estipulado em termos de normas para o loteamento em causa, também parece não preocupar a empresa municipal em causa. Como se não bastasse o roubo da água por parte de pessoas sem escrúpulos, para aquela empresa municipal parece valer tudo para que se possa fazer pagar pela água. Até destruir bens públicos. Evidentemente, depois de tudo isto, fica a certeza de que a actuação da Águas de Barcelos está ao mesmo nível daqueles munícipes que não olharam a meios para se abastecerem de água. É, como se disse, um vale tudo e salve-se quem puder.
Consumidores atentos
Num curto período de tempo tomei conhecimento de dois sítios portugueses na internet cujo conceito, posso dize-lo, me fascinou. Se é que a expressão faz algum sentido, pareceram-me duas plataforma de comércio "consumer-to- consumer". Numa delas – acessível através de http://www.clikcool.net/ – prometem-se trocas de casas entre proprietários para gozo de férias. Na outra – disponível em http://www.autoparticular.com/ – garante-se a venda e compra de automóveis entre particulares sem a mediação tradicional de stands. Enfim, conceitos que atraem qualquer consumidor atento. Depois das primeiras visitas, embora sem conclusões definitivas, fica uma terrível frustração, alimentada por uma série de equívocos, conceitos de transacção e interacção pouco claros, e preços ocultos. Ora, caso estas primeiras impressões se confirmem, nenhum destes sítios vai ser comprado pela Sonae ou pela Impresa. Muito menos pelo Google.
Distribuição de Dividendos, uma coluna com estatutos desblindados que não necessita de autorização da assembleia geral para distribuir dividendos e garante OPAs céleres.