Por Vasco Eiriz
O sistema e o "bunker"
Como qualquer veraneante sabe, fazer férias em Agosto não é matéria fácil. Mas, pela minha experiência, trabalhar é ainda mais difícil. Não que não me apeteça trabalhar, mas parece que o "sistema" não favorece a opção. Senão vejamos o que se passa na minha universidade por estes dias. As portas do edifício passam a ter um horário de funcionamento mais restrito e, portanto, o melhor é não ponderar a ideia de chegar mais cedo ao local do trabalho. Se o fizermos passamos o tempo à espera que o segurança nos abra a porta, e lá se vai o ganho. Depois, alertam-me para o risco de um evento planeado para Agosto poder ficar em causa porque há uma circular superior que determina cortes de electricidade. Proponho trazer electricidade de casa. Riem-se, mas o certo é que apesar de proliferarem engenheiros na casa, ninguém sabe como resolver o problema. Quanto à limpeza, ano após ano, pura e simplesmente os serviços de limpeza devem interpretar que ninguém trabalha em Agosto. Prova-o o caroço da maça no caixote do lixo que já fede e repete os odores de outros anos. O correio deixa de ser distribuído todos os dias e torna-se uma lotaria adivinhar os dias das entregas. Mas, vá lá, talvez o correio electrónico fosse mais despachado. Mas até esse desgraçado – o melhor amigo do homem, depois do cão – foi vítima de Agosto. Ao que parece, de acordo com nota explicativa, abriram uma vala e rebentaram com o cabo da fibra óptica. Pois bem, eu não acredito que tenha sido uma coincidência a história da abertura duma vala. Logo na primeira semana de férias?! Que raio de coincidência. Como também tenho uma péssima impressão das férias em Agosto, acho que vou arranjar um "bunker" para passar o resto do mês. É assim todos os anos.
PT com Euromilhões
A recente aplicação duma multa à PT de 38 milhões de euros por abuso de posição dominante foi uma boa notícia (a multa, não a posição, entenda-se). Ao que parece, a julgar pela posição (não dominante) das empresas prejudicadas pelo comportamento da PT, a sanção chegou tarde. Foi mesmo assim, um sinal positivo para a economia e uma chamada de atenção de que não valem todos os comportamentos empresariais. No caso da PT, a notícia da multa e a correspondente reacção da empresa veio, uma vez mais, mostrar a cultura aí prevalecente. Uma cultura que alia muita ineficiência, desorientação e algum descontrolo com arrogância. Muita arrogância. Arrogância de sobra. Não deixa de ser curioso que na mesma semana em que se soube da notícia, também a soma do "jackpot" do Euromilhões rondava os 38 milhões. Em vez de nos entrarem abusivamente por casa (e pelos bolsos) adentro, talvez os gestores da PT possam fazer o Euromilhões para pagar a multa. E depois podem ir fazer o relatório da responsabilidade social…
Um bilhete de ida
Os maiores dividendos desta semana vão para o Jornal de Barcelos. Não por ser um jornal nosso parceiro, mas porque através de Paulo Vila provou que é ainda possível fazer jornalismo sério e de interesse público. Durante muito, muito tempo, o Jornal de Barcelos investigou e publicou trabalhos notáveis de jornalismo em que mostrava o qual anacrónica é a estrutura de preços praticados pela CP. Trata-se de matéria deveras importante que gera injustiças imensas para quem viaja de comboio. Rapidamente, a questão tornou-se política porque, como todos sabemos, os preços dos bilhetes de comboio são fixados administrativamente pelo Governo. Mas o certo é que a equipa governamental dos transportes optou sempre por fugir à questão. E, claro, como o Jornal de Barcelos tem o peso que tem, o ministro e a secretária sectorial nunca deram a devida atenção ao problema. Até que a TVI colocou há dias o assunto na sua agência noticiosa, dando-lhe destaque de abertura no jornal da noite. Vai daí, parece que, finalmente, muito tempo depois do problema ter sido diagnosticado e os governantes devidamente alertados, vai haver medidas. E, portanto, para que não haja equívocos, os dividendos devem ir para Barcelos e não para o Terreiro do Paço. Quanto aos governantes com o pelouro dos transportes, limitaram-se a confirmar aquilo que já sabíamos deles. Por esta e por outras, se o PM fosse mais exigente oferecia-lhes um bilhete, talvez com escala no terminal 2 da Portela. De ida sem regresso.
Distribuição de Dividendos, uma coluna com estatutos desblindados que não necessita de autorização da assembleia geral para distribuir dividendos e garante OPAs céleres.