Por Vasco Eiriz
Fases finais
Gostamos de ver Portugal a afirmar-se internacionalmente noutras modalidades colectivas que não o futebol. Foi, de facto, notável o nono lugar no europeu de basquetebol ou a forma como os lobos do râguebi, a única equipa amadora na fase final do mundial, cantaram o hino de Portugal perante a Escócia. São, na verdade, feitos que aqui se assinalam com a respectiva distribuição de dividendos. Em todo o caso, não haja ilusões. Na sociedade portuguesa o futebol irá continuar a despertar um interesse incomparavelmente superior. E muitas vezes sem razão objectiva que o justifique. Se dúvidas existissem, bastava ver a forma como a RTP cobriu dois acontecimentos. Enquanto um simples jogo de apuramento da selecção de sub-21 de futebol contra a fraquita Irlanda mereceu cobertura directa da RTP 1 em pleno horário nobre, no mesmo dia, o jogo da selecção de basquetebol contra Israel, embora na segunda fase do final do europeu (tendo, por isso, uma relevância indiscutivelmente maior) não passou da RTP 2! Por isso mesmo, sabendo-se do papel que a TV tem no fomento das modalidades, tem sentido a reclamação aparentemente ridícula do CDS-PP pelo facto dos jogos da selecção de râguebi não passarem em canal aberto.
Choradinho e mérito
Abriu a época do choradinho. A época do choradinho abre por esta altura, quando a preparação do orçamento de Estado para o próximo ano entra na fase de negociações. Em rigor, não existem negociações mas há um conjunto alargado de entidades que, gozando de algum tipo de autonomia, precisam nesta época de marcar posições e conquistar os favores do Governo nas verbas do orçamento de Estado. Daí que uma das formas que se repete todos os anos para afirmar posições é o choradinho público. Sim, diz a sabedoria popular, e diz muito bem, «quem não chora, não mama». Daí a necessidade do choradinho. Mas, atenção. É mesmo de um choradinho que se trata porque chorar em excesso é arriscado, quanto mais protestar. De facto, se o choradinho se torna demasiado resmungão, o Governo não vai gostar e pode até cortar no biberão. Por exemplo, as instituições de ensino superior repetem anualmente a queixa de que as verbas do orçamento de Estado nem sequer dão para as despesas de pessoal. Quanto muito permitem a sobrevivência até meio do ano seguinte. No meio deste choradinho há sempre quem tenha alguma razão. Por exemplo, um reitor que eu conheço já veio constatar que o famoso "factor de coesão" que o ministério do ensino superior aplica lhe transtorna as contas. Em situação normal, aplicando os critérios de qualidade definidos, a sua universidade teria direito a receber em 2008 mais 9 por cento (5,5 milhões de euros). Mas, ao que parece, aquele factor de coesão – que não é mais do que uma medida que penaliza as instituições com melhor qualidade – limita o aumento a 3 por cento. Ou seja, o ministério dá um sinal de que vale a pena aumentar a qualidade, mas até um certo limite. Nada de excessos porque neste país – já é sabido há muito tempo – não há lugar a mérito em demasia.
Diz que é uma espécie de polícia
Há algo de estranho na segurança das cidades portuguesas. Estranheza que resulta do facto das cidades serem cada vez mais inseguras, apesar de ser cada vez maior o número de entidades com competências na matéria. E muitas delas, em vez de contribuírem para que as cidades sejam menos violentas e mais seguras, também assaltam. Assaltam aqueles que seria suposto protegerem. Nuns casos são polícias municipais, mas também há imensos derivados da espécie, como empresas municipais, associações e, até, imagine-se, sociedades anónimas, no seu verdadeiro sentido da palavra! É uma espécie de máfia legalizada. E é-o porque na maior parte dos casos, a sua preocupação não é a segurança, a criminalidade, ou exercer funções mais prosaicas como regular o trânsito ou precaver o estacionamento irregular em zonas sem cobrança. Se, pura e simplesmente se limitam a extorquir os bolsos de muita gente honesta, como é que haverão de contribuir para reduzir a criminalidade, tornando as cidades mais seguras?
Distribuição de Dividendos, uma coluna com estatutos desblindados que não necessita de autorização da assembleia geral para distribuir dividendos e garante OPAs céleres.