Por Vasco Eiriz
Política externa de jogging
O hábito de Sócrates visitar capitais longínquas e aí fazer jogging tornou-se ridículo. À primeira tem graça, à segunda tolera-se, mas à terceira e seguintes o hábito cansa. O caso é tanto mais caricatural porque a única notícia de monta que nestas ocasiões chega de Pequim, Moscovo ou Washington é o jogging matinal do PM. Ora, quando assim é, ou os jornalistas que o acompanham – presos das mordomias e das despesas pagas pela comitiva – estão a fazer um mau trabalho ou, como aqui se suspeita, além disso tratam-se de visitas inócuas, com pouco ou nenhum sentido.
Alô, alô
Um ministro veio aqui à terra e em acto público muito promovido ofereceu quatro mil e tal telemóveis a idosos, ao que parece para lhes matar a solidão e os precaver de infortúnios. Os telemóveis, gratuitos, vêm carregados de minutos de conversação com marcação directa para sítios como o centro de saúde e quejandos. Não plenamente satisfeito, o ministro já disse que vai disseminar a coisa. Ora, se já era intolerável que o PM e um número alargado de membros do Governo andassem pelo país a distribuir computadores, torna-se ainda mais chocante esta política de comprar simpatias políticas. E sobre isto, não haja dúvidas: o Governo entrou já em campanha – paga por todos nós – para as próximas legislativas. E, como tal, Valentim e os seus frigoríficos devem estar, neste momento, a rir-se em Gondomar.
Um bloco central na construção civil
Do episódio anterior fica a dúvida de sobre qual das práticas é mais repugnante: a da factura de um partido político paga pelo construtor civil ou a da utilização abusiva dos meios do orçamento de Estado para auto-promoção? Aliás, sobre a factura do PSD paga pela Somague – uma grande empresa de construção civil entretanto comprada por espanhóis –, sabe o leitor o que é mais interessante? Precisamente o silêncio ensurdecedor dos restantes partidos políticos, com destaque para o PS. Pudera, uns dias depois vinham a lume notícias de … "máfias do bingo" (assim chamadas pela comunicação social) do Brasil próximas do PS. Ora, com ligações internacionais destas, não há jogging que resista.
O ficheiro e as quotas dos militantes
A propósito de corridas políticas, hoje mesmo decorre uma outra, no principal partido político da oposição. E se para o jogging é necessária resistência, a julgar pelas notícias da semana, para militância no PSD é necessária ainda mais resistência. Já se sabia que estas contendas eram difíceis, tinham as suas agruras e muita luta política, mas estava-se longe de imaginar que o debate atingisse o nível a que se assistiu. Mas, na política como em muitos outros sítios e contextos (sim, sim, porque de episódios destes está o país cheio), há sempre quem queira escavar mais fundo. Pelos vistos, é isso mesmo o que aconteceu esta semana no PSD. E se o PS tinha a sua "máfia do bingo", é caso para suspeitar duma "máfia das quotas" no PSD. Ora, no meio de tanta confusão, uma questão é incontornável: como é que um partido político conseguirá governar um país se nem a si se governa em coisas tão simples como o ficheiro dos militantes e a conta corrente das quotas?
Distribuição de Dividendos, uma coluna com estatutos desblindados que não necessita de autorização da assembleia geral para distribuir dividendos e garante OPAs céleres.