2007-11-18

O Profissional

Os Balcãs, em Portugal e onde quer que seja:

«O Profissional é o trabalho dramático que a Companhia de Teatro de Braga leva à cena do Theatro Circo a 22, 23, 27 e 28 (21h30) de Novembro, numa primeira fase, e a 1, 4 e 5 de Dezembro (21h30), posteriormente. Da autoria do dramaturgo e guionista sérvio Dusan Kovacevic, O Profissional contextualiza-se num género policial negro e político, inscrito nos anos da tragédia balcânica. Com interpretações de Rui Madeira, Teresa Chaves, Jaime Soares e Carlos Feio, a acção desenvolve-se nas vidas de um jornalista, jovem estudante contestatário que se torna editor, e de um escritor à procura do editor, que, de acordo com o protagonista, «quer, afinal, editar os anos de pesquisa conduzida, enquanto polícia secreto (agora sem emprego), sobre o tal editor». Nestas interacções, sobressaem os meandros da vida antes e depois da queda do regime e uma democracia que não garante o íntimo e o privado. Encenado por Manuel Guede de Oliva, professor, escritor e, durante 14 anos, director do Centro Dramático Galego, o texto de O Profissional, na circunstância traduzido por Regina Guimarães, constitui, segundo Rui Madeira, uma «profunda e dramática história de vidas (…) , em que os traumas de uma sociedade e de um regime estiolam por dentro de cada um e o que chega à superfície, ao quotidiano, são estilhaços que há muito perderam a possibilidade de se reagrupar e formar um todo coerente». Contudo, embora faça o retrato de uma sociedade recentemente abalada por um conflito não apenas bélico, mas, acima de tudo, ideológico, O Profissional recorre ao cómico para se constituir numa «lição moral de radical magnitude». «Em O Profissional aparece a cómica tristeza daqueles que um dia ficaram sem pátria»: «ou seria conveniente inverter esta ordem e falar daqueles a quem a História roubou a sua história pessoal?», questiona o encenador Manuel Guede de Oliva. Consciente do papel que o cómico e a ironia têm vindo a representar nas sociedades, designadamente enquanto elemento destruidor da repressão, o encenador, que define este trabalho como «uma risada triste, uma gargalhada áspera ao pé do abismo, contra a crueldade de certos destinos», vai, desta forma, ao encontro de Kovacevic, que, nesta obra demonstrou não estar «disposto a negociar o riso, a ironia, o sarcasmo, os espelhos grotescos que reflectem o fim do século XX, que, na Europa, acaba como começou – como uma terrível maldição, sangrando pelas cicatrizes dos Balcãs». Nomeado em 2005 como Embaixador da Sérvia em Portugal, Dusan Kovacevic atingiu o reconhecimento pelas peças de teatro e guiões que escreveu, designadamente para o célebre realizador Kusturica. Contudo, o seu trabalho só passou a estar disponível em Inglês a partir de meados dos anos 90.»

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