Nos tempos da inflação galopante, Portugal teve um ministro das finanças que justificava o controlo da taxa de inflação com um argumento que, à falta de melhor, eu chamaria doméstico. Dizia ele que a esposa ía às compras ao mercado e não notava que os bens estivessem mais caros. A coisa era, como se vê, anedótica, mas - convenhámos - estava ao nível da política económica que então se praticava (e, em certa medida, ainda se pratica). Mas o certo é que nos tempos que correm, em que nos apresentam taxas de inflação sempre baixinhas, começa também a ser anedótico acreditar na aderência dos números do INE à realidade da maioria das famílias portuguesas. Não seria, por isso, pior se alguns ministros fossem também eles próprios ao mercado - quiçá na companhia de alguns técnicos do INE - comprar combustível, pão, leite, electricidade, água e outros bens básicos. E depois que nos digam qual é a taxa de inflação. Definitivamente, os números que ouço propagandear não se me aplicam.