Memórias de Dezembro
Por Natália Barbosa
O mês de Dezembro e todo o reboliço comercial a ele associado fez-me recordar um artigo de Joel Waldfogel publicado em 1993 na American Economic Review com o título “The Deadweight Loss of Christmas”. Nele, o autor demonstra que, em regra, o valor que atribuímos aos presentes que recebemos no Natal é significativamente mais baixo do que o seu preço, resultando a diferença num desperdício de recursos que poderiam ser aplicados na compra de outros bens ou serviços.
Esta situação, infelizmente, não é específica ao Natal. No limite, pode ser estendida a qualquer situação em que alguém (por exemplo, pais, amigos, ou o próprio Estado) faz escolhas por nós, quaisquer que elas sejam. Na verdade, o valor dos bens e serviços é, por natureza, subjectivo e o preço é incapaz de traduzir o valor atribuído por todos nós. Assim, sempre que alguém nos oferece algo ou toma decisões em nosso nome, existe um elevado risco de não acertar nos nossos gostos e preferências, pelo que o valor que atribuímos àquilo que recebemos pode muito bem ficar aquém do preço por ele pago. A única situação em que tal não acontece é no caso dos presentes em dinheiro ou quase-dinheiro (por exemplo, cheque-livro, o qual nos permite escolher entre o conjunto de livros existentes, ou as listas de casamento que os noivos fazem de forma a condicionar as escolhas de presentes pelos convidados).
A relação entre o valor de um bem e o seu preço é, pois, uma questão interessante. Só existe preço se alguém atribuir valor (utilidade) ao bem ou serviço. Mas, existindo o preço para determinado bem ou serviço temos certamente diferentes pessoas a atribuírem diferente valor a esse mesmo bem ou serviço. É por essa mesma razão que sempre que o preço de um bem ou serviço desce, mais pessoas estão dispostas a comprar esse bem ou serviço pois o valor que a ele atribuem é, agora, igual ou superior ao preço que têm de pagar. Desta forma, quando fazemos escolhas para nós próprios e dispomos de meios monetários suficientes, apenas compramos determinado bem ou serviço se o seu preço se aproximar do valor que lhe atribuímos. Caso contrário, desistimos da compra. Mas outros, poderão fazer essa escolha e, como tal, poderemos receber bens ou serviços que valorizamos menos do que a pessoa que os comprou. Apesar de tudo isto, o preço é, sem dúvida, um indicador do valor (material, sentimental e/ou emocional) dos bens, pelo menos para quem efectua a compra.
Natália Barbosa é Professora Associada no Departamento de Economia da Universidade do Minho. É Ph.D. in Economics pela The University of Manchester, Reino Unido. As suas áreas de interesse são dinâmica empresarial e investimento directo estrangeiro. Para além de artigos de divulgação que versam estes tópicos, tem trabalhos publicados em revistas científicas internacionais.