
Se tudo correr normalmente, com pena minha, não haverá heróis nem heroínas. Ou seja, nenhuma instituição quererá arriscar. Todas seguirão a estratégia mais confortável a que eu chamo "Maria vai com todas". Através desta estratégia, a Maria – uma tipa desprotegida, tonta, avessa ao risco, conservadora, que raramente pensa pela sua cabeça e está sempre a olhar para a vizinha – irá procurar proteger-se. Evidentemente, a Maria não é estúpida. Por vezes parece uma saloia, mas no fundo sabe bem o que quer. O certo é que o contexto – uma grande incerteza nas políticas governamentais do sector, uma Governo que faz jogo duplo com as instituições, um mercado imprevisível, e uns tachos em risco - também não lhe favorece o arrojo. Daí que a opção mais confortável para a Maria seja unir-se às suas amigas e todas elas trilharem o mesmo caminho. Protegem-se assim umas às outras, e nenhuma será ofuscada, precisamente porque a nenhuma será permitido brilhar.
Que à semelhança de Maria, a grande maioria das instituições não queira dar passos estruturalmente transformacionais é até compreensível num sector tradicionalmente conservador, avesso à mudança e que só sabe conjugar o termo inovação no discurso. Neste contexto de comportamento mimético baseado no mínimo denominador comum, ficam a ganhar sobretudo as medíocres porque ficam todas numa média demasiado baixa.
Uma das formas de terminar com este ciclo é alguma instituição ter a coragem de romper com as normas de comportamento cristalizadas. Para haver efeitos estruturais no sector, é necessário que essa opção seja desencadeada por um peso pesado. Se isso for feito por um politécnico obscuro é pouco provável que surta efeitos no sector. Se, no entanto, existir um verdadeiro "challenger", a inércia rompe-se. Por isso mesmo, embora não me pareça que vá existir essa coragem, seria interessante que a Universidade do Porto – a maior do país que tomará a sua decisão também esta semana –, ou qualquer outra com a sua dimensão ou importância, rompesse com o "status quo". Com a forma como em Portugal se premeiam os melhores, não é liquido que quem o faça desenvolva vantagem por ter sido a primeira a fazê-lo. Daí que também ninguém queira arriscar a dar o primeiro passo, embora esteja tudo à espreita. Mas o certo é que se alguém o fizer, o sector irá mudar muito mais rapidamente.