Uma das questões que vale a pena discutir sobre a governação universitária são os mecanismos, fins e resultados atingidos com a representação da ... chamemos-lhe "sociedade", nos órgãos de governo da universidade. Será a escolha dos membros externos para as assembleias estatutárias um exemplo do que aí vem?
Vejamos o caso da minha universidade. Quando, pela primeira vez vi o nome dos cinco membros externos da assembleia estatutária (um grupo de 21 pessoas a quem compete elaborar os novos estatutos da universidade, entre os quais o reitor, que preside, 12 professores, 3 alunos e 5 "externos"), a maior perplexidade foi constatar que um ex-reitor exactamente da mesma universidade tinha sido "cooptado" (este é o termo técnico que no dicionário significa "admitir alguém numa corporação, instituição, etc., dispensando-o das formalidades e condições usuais de admissão") como membro externo.
Por muito apreço que se tenha pela pessoa em causa e por muito que a história lhe reserve o lugar de ter sido provavelmente o reitor mais importante da universidade, o certo é que a sua cooptação para a assembleia como "membro externo" é inaceitável. Se, de facto, a sua participação era considerada critíca e o próprio entendia estar em condições da dar um contributo válido à sua universidade, então quem o convidou deveria tê-lo feito, em primeiro lugar, para integrar uma das listas candidatas à eleição para representação dos professores. Não tendo sido assim, a sua "cooptação" é uma decisão que legitima o discurso critíco da sociedade sobre a capacidade da universidade se governar a si própria e se auto-regenerar.
Embora qualquer que sejam as escolhas elas possam merecer maior ou menor concordância, poderia pensar-se que os restantes "membros externos" fossem menos polémicos, não fosse a circunstância de um outro membro integrar na mesma qualidade a assembleia estatutária de duas universidades, a do Minho e a do Porto. Volta novamente a não estar em causa as qualidades da pessoa - certamente muitas, entre elas o dom da ubiquidade. O que causa grande desagrado é verificar como duas universidades concorrentes têm esta estranha capacidade de "cooptarem" a mesma pessoa, com a maior das naturalidades, como se daí não viesse mal nenhum. Mas o certo é que vem e, à semelhança do membro anterior, é também inaceitável. Que estranha coincidência é esta de duas universidades escolherem exactamente a mesma pessoa para função tão sensível? Já agora, para os que cultivam o "nacional-porreirismo" e que nunca vêm qualquer problema nestas coisas, ficam aqui duas perguntas: porque não as duas universidades partilharem os mesmos professores?! Ou então o mesmo reitor?!
Termino como comecei: quais os processos e mecanismos para assegurar a representação externa no governo das universidades? Quais os seus fins? Que resultados são esperados?