O estado gripal do (des)ensino superior
Por Pedro Neves
Ultimamente o país tem andado preocupado com o estado de saúde do ensino superior. Porque o Governo diminuiu as verbas distribuídas às Universidades. Porque algumas Universidades têm a necessidade de “não renovar” contratos por forma a tornarem-se financeiramente mais viáveis. Porque a UE implementou modelos de avaliação das Universidades e Centros de Investigação que por vezes algumas das nossas instituições têm dificuldade em acompanhar. E finalmente porque alguém se lembrou de ir verificar quais as taxas de empregabilidade dos diferentes cursos e colocou uma espécie de aura positiva ou negativa à volta dos mesmos…
No meu caso, fiquei automaticamente curioso… Não porque segundo o estudo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior o curso de Psicologia, junto com mais alguns, está na liderança da taxa de (des)empregabilidade (assim como a enfermagem – espante-se que há excesso de enfermeiros mas falta de médicos e inexistência de paramédicos). Não pela imagem negativa que poderá dar não só aos jovens que dentro em breve se irão candidatar ao ensino superior como também aos utentes dos mais diversos serviços de Psicologia. Mas acima de tudo pela falácia que são estes resultados. E os exemplos são variados.
Todas as escolas deveriam ter um serviço de psicologia e orientação com pelo menos um psicólogo para cada 500 alunos… mas não têm. Os hospitais e centros de saúde têm centenas de voluntários e estagiários a trabalhar gratuitamente, na esperança de melhorar o seu currículo e poder, um dia, aspirar a ter um ordenado e uma vida própria… o que não acontece. As organizações contratam pessoas em regimes precários, tais como recibos verdes ou estágios profissionais, onde a promessa de um futuro raramente se transforma num cumprimento do presente.
Mas mesmo assim há gente que afirma que estes cursos promovem desemprego. Ou será essa gente que promove o desemprego em certos cursos? Faz lembrar um dos episódios da Mafalda do Quino que mais me marcaram. Quando ela decide deitar o globo numa cama, com uma almofada explicando ao Manelinho que “o mundo está doente”…Descobri que o máximo que consigo diagnosticar ao ensino superior neste momento é uma gripalhada daquelas sérias que dá dores no corpo todo e não nos deixa trabalhar, tendo nós de meter baixa.
Pedro Neves é Doutor na especialidade de Comportamento Organizacional. É actualmente Professor Auxiliar Convidado na Universidade de Évora. Os seus interesses de investigação incluem o estudo da confiança e gestão de comportamentos de assunção de risco em contexto organizacional, bem como a avaliação de processos de mudança organizacional.
Por Pedro Neves
Ultimamente o país tem andado preocupado com o estado de saúde do ensino superior. Porque o Governo diminuiu as verbas distribuídas às Universidades. Porque algumas Universidades têm a necessidade de “não renovar” contratos por forma a tornarem-se financeiramente mais viáveis. Porque a UE implementou modelos de avaliação das Universidades e Centros de Investigação que por vezes algumas das nossas instituições têm dificuldade em acompanhar. E finalmente porque alguém se lembrou de ir verificar quais as taxas de empregabilidade dos diferentes cursos e colocou uma espécie de aura positiva ou negativa à volta dos mesmos…
No meu caso, fiquei automaticamente curioso… Não porque segundo o estudo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior o curso de Psicologia, junto com mais alguns, está na liderança da taxa de (des)empregabilidade (assim como a enfermagem – espante-se que há excesso de enfermeiros mas falta de médicos e inexistência de paramédicos). Não pela imagem negativa que poderá dar não só aos jovens que dentro em breve se irão candidatar ao ensino superior como também aos utentes dos mais diversos serviços de Psicologia. Mas acima de tudo pela falácia que são estes resultados. E os exemplos são variados.
Todas as escolas deveriam ter um serviço de psicologia e orientação com pelo menos um psicólogo para cada 500 alunos… mas não têm. Os hospitais e centros de saúde têm centenas de voluntários e estagiários a trabalhar gratuitamente, na esperança de melhorar o seu currículo e poder, um dia, aspirar a ter um ordenado e uma vida própria… o que não acontece. As organizações contratam pessoas em regimes precários, tais como recibos verdes ou estágios profissionais, onde a promessa de um futuro raramente se transforma num cumprimento do presente.
Mas mesmo assim há gente que afirma que estes cursos promovem desemprego. Ou será essa gente que promove o desemprego em certos cursos? Faz lembrar um dos episódios da Mafalda do Quino que mais me marcaram. Quando ela decide deitar o globo numa cama, com uma almofada explicando ao Manelinho que “o mundo está doente”…Descobri que o máximo que consigo diagnosticar ao ensino superior neste momento é uma gripalhada daquelas sérias que dá dores no corpo todo e não nos deixa trabalhar, tendo nós de meter baixa.
Pedro Neves é Doutor na especialidade de Comportamento Organizacional. É actualmente Professor Auxiliar Convidado na Universidade de Évora. Os seus interesses de investigação incluem o estudo da confiança e gestão de comportamentos de assunção de risco em contexto organizacional, bem como a avaliação de processos de mudança organizacional.