José Figueiredo chamou-me a atenção para um artigo de Luis Todo Bom, saído no Jornal de Negócios. Publica-se aqui um extracto:
«[...] Portugal é, infelizmente, uma sociedade de aversão ao conhecimento. As universidades portuguesas com qualidade e prestígio europeu contam-se pelos dedos, e mesmo nestas só uma parte dos alunos adquire e consolida uma quantidade de conhecimento que lhes permita encarar com confiança os desafios profissionais duma sociedade tecnologicamente evoluída. Os estabelecimentos de ensino superior, públicos e privados, que não preenchem critérios mínimos de qualidade na criação e transmissão de conhecimento continuam infelizmente, a existir, com números preocupantes de alunos e cursos sem níveis de exigência universitários. Como resultado a produção intelectual das universidades e institutos superiores, a adequação e actualização dos cursos e a prestação de serviços de alto conteúdo de conhecimento à sociedade portuguesa continuam a ser muito limitadas. O diagnóstico não é animador mas as previsões de evolução são ainda mais sombrias, por uma razão simples: a sociedade portuguesa dá os sinais errados para a construção duma sociedade do conhecimento. O modo como a comunicação social relata detalhadamente e os portugueses acolhem as opiniões de quase-analfabetos, que mal sabem falar português, só porque são ricos (os membros das sociedades de aversão ao conhecimento têm fascínio pelos ignorantes que enriqueceram, porque acreditam que também o vão conseguir, obviamente sem o esforço que o estudo exige!), os mecanismos de nomeação para cargos públicos de indivíduos com cursos generalistas provenientes de universidades manhosas, em que o cartão partidário vale mais do que o conhecimento, são sinais claros que os jovens absorvem e interiorizam, desviando-os do estudo sério e aprofundado. Mas a cereja no topo do bolo, são as universidades de Verão dos partidos políticos. Organizadas por quem não possui nenhum grau académico estruturado, em ambiente exactamente oposto ao universitário, onde não se privilegia a reflexão e o tratamento aprofundado dos temas, sem qualquer pesquisa bibliográfica de suporte, sem um programa coerente com objectivos de aquisição e avaliação de conhecimentos, as universidades de Verão constituem uma mensagem clara da sociedade política de desrespeito pelo conhecimento. A preservação da espécie dos "boys" que alimentam os famosos aparelhos partidários está assim garantida. Como é que professores universitários de universidades prestigiadas participam nesta farsa constitui, para mim, um enigma. Com estes sinais da sociedade, continuaremos a ser uma sociedade de aversão ao conhecimento. Se não os alterarmos não será possível construir um país desenvolvido suportado no conhecimento porque o país não produzirá quadros competentes em qualidade e quantidade suficiente. Continuando por este caminho, dentro de alguns anos, teremos garantido o último lugar entre os países da União Europeia. E é pena, porque não tinha de ser assim.»