A crise financeira
Por Ana Paula Faria
Apesar do Congresso Americano ter aprovado o plano de ajuda financeira proposto pelo Secretário do Tesouro Americano, Henry Paulson Jr., as críticas continuam a ser muitas. Na verdade, a proposta só acabou por passar porque foram aprovadas, ao mesmo tempo, diversas reduções de impostos exigidas por diferentes Senadores como moeda de troca.
Um dos argumentos mais referido pelos críticos do plano, incluindo economistas, é o de que cada um deve ser responsável pelas más decisões que toma. Neste caso, deviam ser os consumidores que assumiram dívidas acima das suas possibilidades financeiras e, sobretudo, as empresas de Wall Street quem deveria assumir os custos da crise. Uma boa ilustração desta perspectiva foi dada por Joseph Stiglitz, prémio Nobel da economia em 2001, comparando a actual crise financeira com as externalidades decorrentes da poluição. Um dos princípios fundamentais na economia do ambiente é o princípio do poluidor pagador. Assim, tendo poluído a economia com crédito imobiliário tóxico, Wall Street deveria agora pagar pela sua limpeza e não o contribuinte, através dos seus impostos, que nada fez e sempre cumpriu com as suas obrigações, argumenta Stiglitz. Desta forma é garantida equidade e eficiência.
De facto, o encerramento de um banco por falência não é tão negativo quanto parece. Se um banco é insolvente (i.e., se as suas dívidas excedem o valor dos seus activos), então a melhor prática diz que a solução correcta é o seu encerramento. Quando tal acontece, o governo limpa o banco dos seus activos maus e transfere os bons para novos proprietários o mais rápido possível. Aliás, este efeito aconteceu quase de imediato após o anúncio das primeiras falências, com o Bank of America e o Barclays interessados em adquirir o Lehman Brothers. Um aspecto central da intervenção do governo em situações de insolvência reside no facto dos accionistas e principais gestores serem afastados do negócio. Isto porque foram eles que criaram o problema e este é o preço que têm de pagar. Tal foi o que aconteceu ao banco Lehman Brothers e ao seu C.E.O Richard S. Fuld.
Richard S. Fuld teve de prestar declarações ao Congresso, onde lhe puxaram as orelhas e, desta forma, prestou contas à nação, pois a sessão foi transmitida pela televisão. Mesmo assim, parece-me que o preço que Richard S. Fuld teve de pagar foi pequeno. A verdade é que Richard S. Fuld levou para casa a módica quantia de 500 milhões de dólares. Apesar de não pagarmos os nossos impostos ao governo americano, a verdade é que acabamos todos por sofrer com as consequências negativas da actual crise financeira da responsabilidade de Richard S. Fuld, entre outros certamente.
Ana Paula Faria é professora da Universidade do Minho. Possui o PhD em economia pela University of Nottinghan (Reino Unido) e as suas áreas de interesse académico incluem temas como a inovação e mudança tecnológica, produtividade e eficiência.
Por Ana Paula Faria
Apesar do Congresso Americano ter aprovado o plano de ajuda financeira proposto pelo Secretário do Tesouro Americano, Henry Paulson Jr., as críticas continuam a ser muitas. Na verdade, a proposta só acabou por passar porque foram aprovadas, ao mesmo tempo, diversas reduções de impostos exigidas por diferentes Senadores como moeda de troca.
Um dos argumentos mais referido pelos críticos do plano, incluindo economistas, é o de que cada um deve ser responsável pelas más decisões que toma. Neste caso, deviam ser os consumidores que assumiram dívidas acima das suas possibilidades financeiras e, sobretudo, as empresas de Wall Street quem deveria assumir os custos da crise. Uma boa ilustração desta perspectiva foi dada por Joseph Stiglitz, prémio Nobel da economia em 2001, comparando a actual crise financeira com as externalidades decorrentes da poluição. Um dos princípios fundamentais na economia do ambiente é o princípio do poluidor pagador. Assim, tendo poluído a economia com crédito imobiliário tóxico, Wall Street deveria agora pagar pela sua limpeza e não o contribuinte, através dos seus impostos, que nada fez e sempre cumpriu com as suas obrigações, argumenta Stiglitz. Desta forma é garantida equidade e eficiência.
De facto, o encerramento de um banco por falência não é tão negativo quanto parece. Se um banco é insolvente (i.e., se as suas dívidas excedem o valor dos seus activos), então a melhor prática diz que a solução correcta é o seu encerramento. Quando tal acontece, o governo limpa o banco dos seus activos maus e transfere os bons para novos proprietários o mais rápido possível. Aliás, este efeito aconteceu quase de imediato após o anúncio das primeiras falências, com o Bank of America e o Barclays interessados em adquirir o Lehman Brothers. Um aspecto central da intervenção do governo em situações de insolvência reside no facto dos accionistas e principais gestores serem afastados do negócio. Isto porque foram eles que criaram o problema e este é o preço que têm de pagar. Tal foi o que aconteceu ao banco Lehman Brothers e ao seu C.E.O Richard S. Fuld.
Richard S. Fuld teve de prestar declarações ao Congresso, onde lhe puxaram as orelhas e, desta forma, prestou contas à nação, pois a sessão foi transmitida pela televisão. Mesmo assim, parece-me que o preço que Richard S. Fuld teve de pagar foi pequeno. A verdade é que Richard S. Fuld levou para casa a módica quantia de 500 milhões de dólares. Apesar de não pagarmos os nossos impostos ao governo americano, a verdade é que acabamos todos por sofrer com as consequências negativas da actual crise financeira da responsabilidade de Richard S. Fuld, entre outros certamente.
Ana Paula Faria é professora da Universidade do Minho. Possui o PhD em economia pela University of Nottinghan (Reino Unido) e as suas áreas de interesse académico incluem temas como a inovação e mudança tecnológica, produtividade e eficiência.