Empreendedorismo comunitário
Por Vasco Eiriz de Sousa
O empreendedorismo comunitário ocorre quando uma comunidade desencadeia acções empresariais com vista a alcançar um resultado comum e partilhado pelos membros dessa comunidade. Ou seja, existe uma rede de pessoas, famílias e organizações (empresas, autarquias, associações diversas, etc.) que partilha um mesmo local e unem esforços no sentido de alcançar algum propósito comum. O empreendedorismo comunitário oferece a possibilidade de uma rede alargada de pessoas que integram a mesma comunidade local desencadear acções de natureza empresarial que, articulando recursos diversos, permitem suprir algumas das necessidades sentidas nesse local. Ou seja, através de empresas comunitárias (e aqui, a empresa não é necessariamente uma sociedade comercial), existe a possibilidade de resolver alguns problemas duma dada comunidade local.
Os problemas susceptíveis de serem solucionados por esta via são múltiplos, mas a título exemplificativo podemos referir problemas que ocorram no domínio da falta de empregos, na insuficiência de serviços de saúde, ou carências na educação, cultura, desporto e tempos livres, só para citar alguns. Neste sentido, a comunidade pode ser um elo de ligação com grande proximidade física e emocional entre pessoas, empreendedores, famílias, entidades públicas, e diversos tipos de empresas.
Apesar de ser inquestionável o papel do empreendedorismo comunitário em zonas desfavorecidas, ele deve ser também seriamente ponderado em locais que, embora não possuam carências tão graves, necessitam de desenvolver ofertas de natureza diversa para as populações aí residentes. Particularmente num momento em que o Estado equaciona a forma de prestar imensos serviços públicos, ao ponto de ser hoje questionável o que é um bem público, e revela algumas dificuldades em ir ao encontro de muitas necessidades locais, o empreendedorismo comunitário oferece algumas soluções interessantes para suprir essas necessidades.
Sabe-se que em sociedades caracterizadas pelo individualismo e materialismo não é fácil mobilizar comunidades em prol de interesses comuns, a não ser que, em primeiro lugar, haja efeitos positivos de demonstração. Ou seja, é importante que as primeiras iniciativas empreendedoras geradas localmente vão de encontro a necessidades efectivas da comunidade. Por outro lado, a mobilização e articulação dos recursos locais requer competências para as quais a boa vontade não é suficiente. Se, no entanto, as primeiras iniciativas gerarem resultados, a mobilização de outras pessoas, famílias e organizações para participarem em novas iniciativas é menos difícil.
Vasco Eiriz de Sousa é editor deste blogue. Parque das Caldas é uma coluna sobre temas locais.