2010-07-19

Diário de Bordo (19)

[continuação] Ía na Maia, com a decisão tomada de não desistir. Até áquele momento, para além do nevoeiro, o único registo de monta no percurso foi ter ultrapassado um ... tractor. Depois de parar, o rolo de papel higiénico que institivamente tinha colocado na mochila começou a revelar-se precioso para limpar a água do nevoeiro que se acumulava nos óculos e limitava a visão.

Atirei-me novamente à estrada por entre camiões e viaturas ligeiras - ainda pouco escassos áquela hora da madrugada - e rapidamente se percebeu que o resto da viagem passaria pela capacidade de "negociar ultrapassagens". As dos outros, claro, que a Vespa LX 50 é demasiado lenta para ter pretensões. E nisto de negociar ultrapassagens vale a pena fazer um parenteses para esclarecer os menos informados que os motores de 50 cm cúbicos possuem desempenhos bem mais modestos do que as Vespas clássicas que, embora também estejam homologadas como ciclomotores de 50 c.c.(matrículas amarelas) têm, segundo me dizem, cilindradas à volta dos 90 c.c.. Por outro lado, é bom não esquecer que os ciclomotores actuais possuem silenciadores e catalisadores que também lhes reduzem o desempenho. E nem o facto da LX 50 de que aqui se relatam os feitos ser a dois tempos - precisamente para minimizar as quedas acrescidas de desempenho que os quatro tempos acarretam - lhe augura grandes ambições.

Chega por fim a Via Norte, esse terrível pedaço de asfalto da EN 14 entre a Maia e o Porto que me habituei a respeitar. Quando, uns dias antes, planeei o trajecto cheguei a pensar que a Via Norte estaria interdita a ciclomotores. Mas o certo é que a placa de interdição não surgiu , nem tão pouco a Vespa deixou de se atirar a ela com garras (as possíveis). E ao negociar uma curva de acesso, fiz mal em querer ser simpático para com os três carros que rapidamente surgiram a perseguir-nos. Fiz mal porque o espaço, tanto em largura como em cumprimento, era escasso. E aprendi algo: nunca encostar à direita se não se tem a certeza absoluta que existe espaço e segurança. Ao faze-lo, estamos a abrir uma porta e a convidar alguém a entrar por uma largura que é escassa para dois. E esse alguém vai, por vezes inconscientemente, aproveitar a cortesia, podendo um ligeiro toque terminar em tragédia, geralmente para a parte mais fraca. Daí que, nesses casos extremos, o melhor é ficar no meio a mostrar o rabinho da Vespa, para que a vejam e percebam que só podem passar se o fizerem por cima dela. E isto é coisa que, em princípio ninguém faz (digo em princípio porque, infelizmente, há excepções, como veremos neste Diário de Bordo).

Ainda assim, apertadinha, a Vespa entra na Via Norte. E eu com ela. Galgámos o que é possível galgar por uma estrada com o piso disforme, com buracos e irregularidades graves de que certamente a hérnia discal se ressentiria. Fazemos o que nos é possível e, sempre encostadinhos à direita, a subir, beneficiámos do movimento ainda escasso áquela hora. Eram menos de 7 horas e o nevoeiro mantinha-se, embora menos espesso do que quando o confrontámos antes do Jumbo da Maia.

Finda a Via Norte, acedemos à EN 12 (popularizada como "circunvalação"). Anteriormente tinha decidido que, em detrimento de aceder ao miolo do Porto, faria a circunvalação até Matosinhos, e passaria a Foz, rumo ao tabuleiro inferior da Ponte D. Luis. Assim foi. Evitava assim andar perdido no meio do Porto por entre ruas cheias de paralelo que prejudicariam a coluna. Por outro lado, circularia pela Foz e pela marginal do Porto, dois pedaços agradáveis da cidade. [continua]
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