[continuação] Contornar o Porto pela circunvalação e Foz por volta das sete da manhã, por entre uma paisagem urbana sem pessoas, junto a um mar que o nevoeiro torna invisível, com humidade e bréu intenso, é - como se diz agora - uma experiência com emoções. Nestes escassos quilómetros vi-me obrigado a parar por duas ou três vezes para limpar as lentes, mas à medida que se aproximava a Ponte D. Luís, o dia começou a espreitar. E com a abertura do sol e a passagem do Douro, surge uma nova energia. Em Gaia bastou inquirir alguns transeuntes para ultrapassar uma Avenida da República ainda em obras, provavelmente para expandir o Metro. Seguir para sul foi bem mais fácil do que imaginava. E assim rumámos para sul do Douro.
Exactamente às 8:00 horas em ponto, 2,5 horas depois da partida, tinha feito precisamente 99,3 kms. Uma módica média de 39,7 Km/h. Estava cumprido aproximadamente um terço da viagem. Passámos a Mealhada às 10:00 horas e aí registei, qual nova experiência com emoções, um camião de recolha de lixo à minha frente a largar os seus odores. Seguimos. A passagem por Coimbra foi toda ela realizada pelo IC2.
Estou agora convencido que em algumas zonas - provavelmente em Águeda e Coimbra - não respeitei os sinais de interdição a ciclomotores, mas o certo é que não os vi, embora admita que fosse ... distraído e convencido que a distinção entre um IC e uma EN fosse mera questão semântica. Certo, certo, é que as bermas existentes nos novos troços do IC2/EN1 tornam a viagem muito mais segura para um ciclomotor na medida em que permitem que nos encostemos à berma. Fazendo-o com uma leve desaceleração, negociando as ultrapassagens, somos rapidamente ultrapassados por uma catrozada de viaturas pesadas e ligeiras. Depois é só acelerar e retomar a marcha pelo menos durantes mais alguns minutos de descanso, sempre com os olhos presos no retrovisor à espera do próximo encosto. O problema é quando a estrada não possui berma ou esta está demasiado degradada e perigosa. E isso acontece bem mais do que seria desejável.
Aprendi nesta viagem que um viajante prevenido de ciclomotor deve olhar tanto ou mais para trás do que para a frente! Parece estranho, mas não é. É que os maiores perigos vêm pela parte de trás!! E nestas ocasiões um homem deve cuidar-se. Tanto assim é que ao passar Coimbra, num acesso com uma só faixa de rodagem e sem bermas, um camião aproximou-se bruscamente da Vespa. O leitor imagine aquela cena clássica de filme em que o camião nos preenche rapidamente o retrovisor e fica a escassos metros do embate. Simpaticamente, o homem puxa pelo buzinão como quem ralha com um mosquito (uma Vespa neste caso) impertinente. E esta foi a única vez que fiquei completamente fo**** (com todas as letras) na viagem. Um problema destes resolve-se geralmente em poucos segundos. Segundos esses que são uma eternidade para o Vespista. E com o coração em pulgas, este também se resolveu.
Passados poucas centenas de metros após esta incidência, já mais calmo mas ainda a digerir aquele "grande-pequeno-almoço-com-buzinão" raparo numa loja que comercializa ... campas. De todos os tamanhos, imagino. E o sorriso nunca se me abriu tão amarelo-bilís, a lembrar um certo humor mórbido. Avante. [continua]