2010-08-06

Parque das Caldas

Mudar para melhor
Por Vasco Eiriz de Sousa

Épocas de dificuldade ou estagnação económica como aquela em que vivemos são geralmente propícias para as empresas arrumarem a casa e mudarem para melhor. Em fases de crescimento económico, as empresas orientam-se mais para o mercado na tentativa de responder à procura. Mas em épocas de crise possuem mais tempo e predisposição para se organizarem. As próprias condições de mercado a isso as obriga no sentido de ganharem eficácia, aliviarem os seus custos e se tornarem mais eficientes. Em momentos como o que a economia portuguesa atravessa muitas organizações têm a oportunidade para mudar e reorganizar-se.

Há alguns sinais que mostram que em alguns casos isso possa estar a acontecer. Por exemplo, a transformação da personalidade jurídica dos hospitais e consequente alteração do modelo de gestão é um exemplo de mudança. Com esta mudança procura-se eficiência na gestão dos recursos e eficácia na prestação dos cuidados de saúde, embora não seja liquido que isso esteja a acontecer. Ou seja, transformaram-se vários hospitais em entidades empresariais.

As parcerias estratégicas e outro tipo de arranjos inter-organizacionais podem obrigar a processos de reorganização que envolvem grande mudança. Caso queiram continuar a existir, muitas organizações têm necessidade de passar pontualmente por profundas transformações. Esta necessidade é mais frequente do que se pensa, mas nem sempre é devidamente equacionada.

O caso dos hospitais é dos mais mediáticos. Mas, a título meramente exemplificativo, é geralmente reconhecida a necessidade de mudança em organizações tão diversas como instituições de ensino superior, clubes de futebol, empresas dos mais variados sectores de actividade, organismos da administração pública central ou até câmaras municipais e juntas de freguesia. Noutro nível, também se reconhecem necessidades de mudança na organização do sistema eleitoral, estruturas de governo ou ordenamento do território, só para citar alguns.

Para melhor compreendermos estas mudanças vale a pena aqui citar um relatório do Boston Consulting Group, uma consultora internacional de gestão e estratégia. Partindo da análise de 277 fusões e aquisições ocorridas nos Estados Unidos da América no período de 1985 a 2000, o estudo constatou que as fusões e aquisições registadas em períodos de crescimento económico inferior à média possuem uma maior probabilidade de sucesso e geram, em média, mais valor do que as que ocorrem em períodos de crescimento económico superior à média. Não sendo de todo surpreendentes, estes resultados vêm suportar a ideia de que as épocas de crise económica parecem mais apropriadas para encetar processos de mudança que envolvam fusões e aquisições.

No caso do tecido empresarial português esta necessidade é tão mais premente se considerarmos a dimensão média e o perfil das empresas que o compõem. Sabe-se que mais de 99 por cento das empresas portuguesas possuem menos de 250 trabalhadores e um volume de negócios anual não superior a 40 milhões de euros ou um activo não superior a 27 milhões de euros. São predominantemente empresas de base familiar com uma dimensão média de 11 trabalhadores. Só seis por cento dos seus colaboradores possuem curso superior. Naturalmente, quando assim é, o leque de opções estratégicas ao seu dispor encurta-se, pois não possuem os recursos e competências para projectos ambiciosos que envolvam, por exemplo, lançamento de produtos inovadores ou modalidades avançadas de internacionalização.

Há, nestas condições, um incentivo a processos de mudança organizacional. Fazendo-o inteligentemente, as empresas e outras organizações ganham capacidade para alcançarem metas mais exigentes. Não o fazendo, tornam-se progressivamente mais frágeis, incapazes. No actual contexto da economia portuguesa, faz todo o sentido que os empresários equacionem estratégias de compra, venda ou cruzamento de capitais, da mesma forma que os decisores públicos devem equacionar formas de organização mais capazes. Fazendo-o, os gestores e decisores podem fortalecer a sua capacidade financeira, os seus serviços e produtos, a presença nos mercados ou a forma como satisfazem necessidades dos cidadãos. Esta mudança para melhor é necessária tanto no sector privado como no sector público. Quando o caminho escolhido é o da mudança, não deve haver lugar a ambiguidades.

Vasco Eiriz de Sousa é editor do blogue Empreender. Parque das Caldas é uma coluna sobre temas locais.
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