2011-11-28

Perdidos nos Alpes

É raro o gestor ou responsável político que não tenha ou ambicione ter um plano estratégico. Os planos estratégicos servem para tudo e para mais alguma coisa. Eles são utilizados na estratégia das organizações, no planeamento e ordenamento do território, na formulação de políticas públicas e por aí fora. Simplisticamente, um plano estratégico é um documento ou conjunto de documentos que formaliza um exercício de planeamento estratégico.

Por exemplo, recentemente o Governo publicou o Plano Estratégico dos Transportes para o período 2011-2015, por conseguinte um plano para aplicar num sector em particular, o dos transportes e infraestruturas associadas. Para citar um outro exemplo, a Comunidade Intermunicipal do Minho Lima está neste momento a encetar um processo de planeamento estratégico do seu território, o Alto Minho. E, finalmente, a provar que não faltam exemplos, a Universidade do Minho desencadeou também recentemente um processo de reflexão estratégica. Que vai conduzir à elaboração de um plano estratégico, pois claro. Provavelmente, também o leitor já se confrontou com planos estratégicos, senão na sua organização, pelo menos no seu país, no seu clube, ou certamente nesta crónica.

E na medida em que tanta gente que nos rodeia anda preocupada com planos estratégicos, nada melhor do que uma anedota para compreender os seus benefícios, mas também os seus paradoxos e limitações.

Um grupo de soldados encontrava-se nos Alpes em operações de reconhecimento. À medida que subiam a montanha levantou-se um forte nevoeiro. O pelotão perdeu-se. Atordoados com o nevoeiro, neve e chuva, os soldados começaram a mobilizar-se à procura das melhores soluções para sair dali e regressar ao seu acampamento. No processo, surgiram discordâncias, diferentes leituras da situação e algum nervosismo decorrente precisamente das leituras diversas, quase contrastantes, que cada um fazia da situação. Até que o líder descobriu um mapa no fundo da mochila. Os soldados começaram então a orientar-se pelo mapa e a esperança regressou ao seio do grupo. Aqui e ali o terreno não era nada coincidente com as indicações do mapa. Não raras vezes o mapa apresentava imprecisões em excesso. Mas nada disso desmobilizou o grupo. Até que o pelotão conseguiu salvar-se e chegar à base. Foi grande a celebração. Só passado algum tempo, um dos soldados que não tinha ido na expedição apercebeu-se que o mapa não era dos Alpes, mas sim dos Pirenéus! Era o mapa errado.

Mas a verdade é que o mapa salvou aquele grupo. Foi o instrumento que lhes alimentou a esperança, deu um sentido lógico ao seu caminho, estimulou a procura e conduziu os objectivos. Mas, para todos efeitos, o mapa estava errado. Moral da história: os planos estratégicos funcionam como mapas, são guias de orientação, embora de forma bem menos simplista e precisa do que um mapa para nos orientar na montanha.

Não nos dizem o caminho exato, mas dão-nos confiança, fazem-nos pensar no futuro e nas formas de lá chegar. Em síntese, orientam-nos e são uma construção simplificada da realidade. Apesar disso, como bem ilustrou a nossa anedota, por vezes somos orientados por guias errados, e, mesmo assim, podemos ser bem sucedidos nos nossos propósitos. Noutras ocasiões, podemos até possuir os “mapas certos” e, apesar disso, falhar nas nossas metas.

Por isso, sobretudo quando o estado do tempo não ajuda, o nevoeiro é intenso, cai chuva e neve, e faz um frio intenso, mesmo com o mapa certo podemos ter um problema grave e perdermo-nos na montanha.

Termino afirmando o óbvio: os planos estratégicos são importantes e úteis, mas têm também várias limitações que nos devem deixar alerta, quer estejamos ou não perdidos nos Alpes. Eles podem formalizar uma estratégia mas não são certamente a única forma de gerir a estratégia.

Artigo publicado no Jornal de Barcelos de 23 de Novembro de 2011
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