2014-12-21

O musgo

Houve um tempo em que a festa se Natal na escola se cingia a ir apanhar musgo para o presépio. Vinha-se de lá com as mãos geladas e cheias de frieiras, o nariz a pingar e as orelhas a saltar. Tudo em benefício dumas quantas ovelhinhas que de ano para ano viam o rebanho reduzir-se não por efeitos insondáveis mas porque se iam partindo e ficavam demasiado esmocadas para o enfeite. Tudo mudou.



Quanto te falaram que a festa deste ano dos miúdos seria uma ida a Lisboa ao circo, ocorreu-te o palco dos melhores circos de Lisboa: uma audição parlamentar daquelas em que os doutores e as doutoras tratam os golpes e os contra-golpes seriamente, sem se rirem, e com chá em direto na TV. Depois disseram-te que a Arena era outra - a do Meo - e de que o circo não seria com os palhaços que te divertem, mas sim com o muito corporate Cirque Du Soleil. Imaginas uma fila de vinte miúdos de mão dada com a professora por aí abaixo num daqueles autocarros que de tão enjoativos não deixam saudades. Mas também nisto tudo mudou. Continuas sem acreditar no que te dizem, mas constatas finalmente que vem tudo escrito na carta assinada pelo Padre Cândido: esta manhã partem três comboios (!) especiais (!!) fretados (!!!) para os miúdos e famílias (!!!!) num total de duas mil pessoas!!!!! Vão por aí abaixo e regressam lá para a uma da manhã. É certinho: ninguém vai escorregar no musgo.
© Vasco Eiriz. Design by Fearne.