Numa boa reportagem, o Página 2, programa da TVE 2 dedicado aos livros, explicou a razão do sucesso internacional dos autores nórdicos. Avançou várias justificações válidas.
A justificação que mais atenção me chamou alicerçava-se num dado muito concreto: o consumo de livros. A título exemplificativo, a quantidade de livros que se vende por ano na Noruega corresponde a três vezes a sua população, ou seja, aproximadamente uns 15 milhões de livros por ano! Não sei quantos livros se vendem por ano em Portugal, mas se se aplicasse a mesma fórmula, estaríamos a falar de 30 milhões!!
Se a procura é grande, deveras grande, é obvio que isso vai estimular o mercado e a oferta, tornando-a mais capaz na arena internacional. A isto, no seu modelo sobre a vantagem competitiva das nações, Porter chamou as condições da procura, um dos fatores que está na base da competitividade de um país. Nestas condições da procura, a dimensão do mercado é importante mas essas condições são melhor compreendidas se para além da dimensão incorporarmos outros traços como, por exemplo, o grau de exigência e a sofisticação.
Precisamente por causa disto, costumo exemplificar o modelo dizendo que não há nenhum país no mundo a cozinhar tão bem o bacalhau e de formas tão diversas e ricas como se faz em Portugal, apesar de nós próprios não produzirmos a espécie nas nossas águas.
E porque será? Pois bem, é simples: adoramos o bacalhau e comemo-lo como ninguém no mundo. Está assim dada uma resposta aos noruegueses que o pescam (e compram e lêem muitos livros) e têm a matéria-prima, enquanto nós a consumimos e exploramos como ninguém.