Um certo absurdo, um quase vazio percorre a vida de Andrea, estudante que ruma a Barcelona e aí se instala em casa de familiares na rua de Aribau. É este o ponto de partida de Nada, romance da autoria de Carmen Laforet (Cavalo de Ferro, 2014) publicado originalmente em 1944 quando a autora era também ela uma jovem de 23 anos que tinha vivido na mesma rua de Aribau, nome que atribuo a esta entrada.
O existencialismo, corrente em voga à data da sua publicação, está bem presente neste romance tanto na forma como o espaço é descrito como no comportamento das personagens. Num tempo e num contexto bem difícil como era aquele após a guerra civil espanhola, esta é uma abordagem rica para uma história simples. Gente estranha num ambiente difícil. Uma cidade que curava ainda imensas feridas por sarar. Uma Europa em desintegração.
Nada, Carmen Laforet, Cavalo de Ferro, 2014.
De há alguns dias a esta parte, este romance que li há poucos meses vem-me muito à memória. Por um lado, por ter escolhido ficar instalado na mesmíssima rua de Aribau para uma curta estadia por estes dias. Por outro lado, porque os tempos que se vivem hoje em Barcelona e em toda a região da Catalunha em torno do seu movimento independentista exibem também eles um misto de sonho, absurdo e paradoxo.
Carrer d'Aribau assinalada no Google Maps.
O tempo e o modo são obviamente distintos da década de 1940 mas é com os paradoxos desta cidade e região na mente que volto a visitá-la procurando sentir-lhe novamente o pulso. Em plena rua de Aribau.