Na qualidade de diretor do Mestrado em Marketing e Estratégia da Universidade do Minho e responsável da unidade curricular Dissertação, há alguns meses abordei neste blogue dúvidas sobre a dissertação colocadas pelos estudantes que se encontravam ainda a realizar a parte escolar do curso. São questões e dilemas que não interessam só aos estudantes deste mestrado mas são comuns provavelmente à maioria dos estudantes que estão no primeiro ano de um curso destes. As questões que se seguem foram-me colocadas explicita e diretamente por alguns desses estudantes; as respostas que então dei surgem de imediato.
«Sou trabalhadora-estudante. Como tenho enfrentado grandes dificuldades de tempo, receio que no próximo ano lectivo, aquando a realização da dissertação, não me consiga dedicar a 100 por cento à dissertação. Aconselha a parar um ano para realizar a dissertação?»
Estar ou não estar a 100 por cento, eis a questão. Um curso como o Mestrado em Marketing e Estratégia requer uma grande dedicação, idealmente em exclusividade (ou seja, num verdadeiro tempo integral). Quando isso não é possível, no 2.º ano é recomendável conseguir condições de tempo e contexto para a pesquisa. Ou seja, a dissertação é compatível com outros compromissos pessoais desde que estes não prejudiquem a dissertação.
Por um lado, não havendo parte letiva, as atividades da dissertação oferecem maior flexibilidade de horários. Ainda assim, para as pessoas muito ocupadas, é importante notar que não é possível realizar uma dissertação na última meia-hora de sexta-feira e ao fim de semana. Por outro lado, como o 2.º ano curricular deste mestrado é, em número de semanas, bem mais curto do que o 1.º ano, em certa medida ele é bem mais exigente em termos de tempo, requerendo bastante planeamento e alguma disciplina.
O ideal é realizar o 2.º ano a tempo integral (100 por cento) quando isso é possível. Não sendo possível, cada estudante deve avaliar a natureza e intensidade dos seus compromissos e equacionar a sua compatibilidade com a dissertação. Ao faze-lo pode também contemplar a inscrição a tempo parcial.
A ideia de «parar um ano para realizar a dissertação» pode parecer teoricamente atractiva e, na verdade, não é de rejeitar de todo. Contudo, a experiência diz-nos que a probabilidade destes estudantes regressarem à universidade um ano depois de terem concluído a parte escolar para realizar uma dissertação é muito baixa.
«Apesar de estar convicto de que vou realizar a dissertação, a questão do tema continua uma incógnita. Não sei por onde começar.»
Este é dos principais problemas que um estudante do 1.º ano de mestrado tem pela frente, isto é, encontrar uma área de interesse e nessa área formalizar uma proposta de investigação sobre um tema específico devidamente enquadrado nessa área.
Precisamente por isto requerer tempo de amadurecimento e pesquisa é que este processo para preparar a proposta de dissertação deve ocorrer e terminar no decorrer do 1.º ano do curso. Naturalmente, não pode ser abordado de forma contemplativa. Tem que ser abordado com método, pesquisa, reflexão orientada e aconselhamento de pessoas mais experientes, em particular do orientador mas também de outros investigadores que passaram por processos idênticos.
Num processo destes, o mais comum é surgir um turbilhão de ideias que são potencialmente geradoras de vários temas. Estas ideias vêm de fontes diversas: dia-a-dia; observação nas empresas; média; literatura; etc.. Por vezes, as ideias são tantas que a maior dificuldade é escolher um tema entre vários possíveis e não tanto gerar temas. A partir dessas ideias iniciais, potencialmente geradoras de temas de pesquisa, é necessário a tal orientação e pesquisa com método para formalizar o tema e seguir caminho.
«Estou a pensar em temas relacionados com as novas tecnologias, desporto, marketing em empresas de videojogos. São áreas de que gosto mas tenho alguma dificuldade em escolher um tema.»
«Gosto muito de redes sociais - adoro o Facebook e blogues - e interesso-me por moda, marcas, cosmética, e life-style, mas não sei para onde me virar em termos de tema.»
Em alguns restaurantes, acontece-me o mesmo: perco-me com o menu e com a carta de vinhos e não sei o que escolher. É que há listas tão completas e boas que deixam qualquer comensal indeciso. É raro acontecer mas de tempos a tempos acontece. Ainda assim, como não é possível pedir um pouco de tudo, acabo sempre por escolher um único prato, um único vinho e uma única sobremesa. Na verdade, não faz sentido pedir vários pratos e vários vinhos: não há carteira para isso, nem estômago. Grande ilação: escolha um único prato - algo que lhe agrade - e não se deixe tentar por impossibilidades.
«Tenho-me deparado com alguns obstáculos principalmente ao nível de referências bibliográficas relacionadas com as temáticas que me interessam. Admito estar ainda algo perdido mas irei aproveitar o tempo para definir opções e escolher qual o caminho que vou seguir.»
Os problemas com bibliografia nunca podem ser por escassez tal é a proliferação de fontes que hoje existem. Quando muito, o problema é de adequação e relevância. Aqui sim: há hoje em dia um problema grave tal é a quantidade de informação irrelevante a que temos acesso.
Para escolher referências adequadas é necessário formalizar um problema de investigação concreto. Para encontrar referências relevantes sobre esse problema recomendo usar estritamente revistas académicas. Mas, cuidado. No mundo das revistas académicas também há alguns pasquins com nomes sonantes que parecem de referência. Não sabe então quais são as revistas que verdadeiramente contam? Peça ao orientador que lhe indique as principais revistas académicas para o seu problema de investigação ou para identificar pistas de pesquisa que permitam formalizar um problema de investigação.