2016-06-28
Caixote de lixo
Circunstâncias do acaso fizeram-me revisitar um artigo sobre teoria das organizações publicado em 1972. Fiquei a compreender melhor o país e muitas das suas organizações.
O artigo intitula-se "The garbage can model of organizational theory", qualquer coisa como "O modelo do caixote do lixo na teoria organizacional" e foi publicado na revista Administrative Science Quarterly. Nele, os seus autores – Michael D. Cohen, James G. March, e Johan P. Olsen – constatam que existem organizações que actuam com uma grande variedade de escolhas que, frequentemente, são mal definidas. Além disso, não raras vezes, essas escolhas são inconsistentes entre si e não são partilhadas pelos membros da organização. São organizações que privilegiam acções pouco claras baseadas na tentativa-erro. Por outro lado, a forma como os seus membros actuam nessas decisões revela um envolvimento pouco persistente no tempo, sem objectivos também claros.
A metáfora do caixote do lixo é utilizada pelos autores como um receptáculo em que os diferentes membros da organização colocam vários tipos de problemas e soluções à medida que estes vão sendo gerados no seu dia-a-dia. Como num caixote de lixo, também em muitas organizações há lugar a todo o tipo de ingredientes, da mais diferente natureza. Nuns casos, esses ingredientes – ou se preferirem, o lixo – possuem uma relação entre si e daí que a metáfora do eco-ponto possa ser aplicada em algumas organizações. Noutros casos, de forma muito mais comum, os ingredientes (problemas e soluções) não possuem qualquer lógica ou sentido aparente e, à semelhança duma lixeira em céu aberto, não se descortina qualquer ordem.
Este tipo de organizações – a que os autores chamam anarquia organizada – é muito comum e o melhor exemplo desta forma de tomar decisões que eles identificam é o das universidades. Em contextos como este é muito frequente que os gestores encontrem soluções para problemas inexistentes. De igual forma, é também muito comum que não se descortinem soluções para os verdadeiros problemas. Ora, quando assim é, alguns problemas acabam por ser resolvidos mas não através das primeiras decisões e soluções. Dito de outra forma, não se resolvem, vão-se resolvendo.