2016-08-02
Carta a um jovem empreendedor
Caro empreendedor, agora que estás determinado a criar a tua própria empresa entendi escrever-te esta breve missiva. Faço-o, em primeiro lugar, para te felicitar pela iniciativa. No actual contexto de desemprego crescente – particularmente preocupante entre os jovens da tua idade -, e em que escasseiam as oportunidades de progressão, é louvável que tenhas decidido lançar um negócio. Nessa aventura vais encontrar pela frente muitas barreiras; umas relacionadas com o país em que vivemos, e outras que dizem directamente respeito a ti próprio e ao teu negócio.
Quanto ao primeiro tipo de barreiras, tem-se discutido muito a existência de condições favoráveis à criação de empresas. E a prova de que existe alguma preocupação com isso é o facto do Governo ter implementado a "empresa na hora". Subsistem, mesmo assim, outras barreiras ainda mais difíceis, como o licenciamento, a carga fiscal ou a legislação laboral.
Em todo o caso, meu caro amigo, decidi escrever-te esta carta para partilhar contigo e te alertar para algumas dificuldades que te dizem directamente respeito e que, talvez pela tua juventude, inexperiência ou qualquer outro motivo, não estejas suficientemente alerta.
Identifiquei essas dificuldades ao avaliar largas dezenas de projectos de criação de empresas no decurso dos últimos quatro anos. Estes projectos têm sido desenvolvidos no âmbito duma disciplina de Empreendedorismo. Nota, por favor, que os alunos responsáveis por esses projectos, embora jovens como tu, eram finalistas de licenciaturas em que a formação em gestão é muito forte. Por conseguinte, se os estudantes universitários de gestão e áreas afins possuem essas dificuldades, então é natural que algumas delas sejam comuns ou até mais fortes noutras áreas de formação.
As principais limitações que identifiquei e para as quais te chamo a atenção, podem ser agregadas em três tipos de dificuldades: mercado; inovação e tecnologia; e recursos e resultados.
Sobre o mercado, é muito comum que ele não seja bem identificado e avaliado. Frequentemente ele é definido de forma excessivamente restrita ao ponto de muitos empreendedores caírem na ilusão de que a sua oferta é de tal forma original que não existe concorrência. Nunca te iludas: existe sempre concorrência e aquilo que venderes no mercado tem que satisfazer alguma necessidade. Ora, quem define a necessidade é o mercado não as tuas ideias ou os teus desejos.
No que respeita à inovação e tecnologia, mesmo que te aventures num negócio tradicional, não há volta a dar: tens que inovar em algo para que te diferencies. Cada vez mais essa inovação requer o uso de tecnologias no processo de produção, aquisição, distribuição ou consumo. Mas a tua inovação deve ir além da tecnologia e ponderar novos modelos de negócio com ofertas originais em termos dos teus produtos, serviços, preço, comunicação ou o que quer que seja. Embora por vezes isso seja bem sucedido, evita cair na tentação fácil da imitação, algo que, mesmo inconscientemente, é muito comum.
Finalmente, a tua empresa será aquilo que resulta dos teus recursos e resultados. Os teus recursos financeiros ou físicos talvez sejam escassos, como, aliás, o são para qualquer grande empresa. Se assim for, então a tua aposta no conhecimento, informação, organização, relações e outros recursos menos convencionais tem que ser redobrada. Só assim podes criar condições para alcançar resultados. E, claro, nunca te esqueças, os resultados têm que aparecer ao fim de um certo tempo. Por isso, tens que ter sempre as baterias apontadas à baliza. Se assim não for, o sucesso é mais difícil.
Desejo-te a maior sorte porque ela também é necessária. Mas não esperes que ela te bata à porta. Procura-a.