Como o próprio título sugere, no centro desta pesquisa esteve a análise da evolução nos modelos de negócio na indústria da música associados à digitalização e sobretudo ao advento do "streaming", processo tecnológico que está a alterar profundamente o padrão de consumo de música.
Por isso mesmo, foi com grande curiosidade que tomei conhecimento dos desenvolvimentos mais recentes na área, relatados na edição de ontem do Financial Times, que vêm de encontro ao que Filipe Pinto Leite e eu próprio temos vindo a estudar, mesmo depois de concluída a dissertação do mestrado.
Resumo os principais contributos da peça do jornal nos seguintes pontos principais:
- O ano de 2016 confirma em definitivo a expansão dos serviços de "streaming" como Spotify e Apple Music, marcando de forma peremptória este formato como o preferido para compra e consumo.
- Pela primeira vez em 2016 o crescimento das vendas em "streaming" é de tal forma assinalável que começa a compensar as quedas acentuadas que se vêm registando há quase duas décadas na venda de música em suportes físicos como o CD. É exemplo disso, o facto da Warner Music, uma das maiores companhias da indústria, ter em 2016 o seu melhor ano de vendas nos últimos oito anos, tendo as suas vendas em "streaming" ultrapassado pela primeira vez as vendas dos formato físicos.
- Desde o final do século passado - há portanto 16 anos - as vendas de música têm caído mas, no caso do mercado americano, 2016 é o segundo ano consecutivo de crescimento positivo, mostrando que o "streaming" parece estar a rejuvenescer a indústria em termos de receitas. Apesar de não haver ainda dados definitivos do ano em curso, admite-se que este comportamento do mercado americano se verifique pela primeira vez para o mundo inteiro precisamente neste ano.
- Neste momento, o Spotify lidera o "streaming" com 40 milhões de assinantes pagantes, seguindo-se a Apple com 20 milhões. Para além destes, há operadores emergentes como a Amazon, Pandora e iHeartMedia que entraram no sector em 2016 e que se vêm juntar a concorrentes instalados há mais tempo como Deezer, SoundCloud, Tidas e Google Play. Esta proliferação e a chegada de operadores como a Amazon poderá significar uma massificação ainda maior do consumo elevando a indústria para uma dimensão que, preve-se, em 2025 poderá ser o dobro da atual.
Apesar do manifesto interesse desta análise, o certo que esta reconfiguração dos modelos de negócio tem sido analisada sobretudo na ótica das editoras discográficas e de distribuidores como o Spotify. São, contudo, escassos ou quase inexistentes as pesquisas sobre as implicações destas mudanças para os próprios músicos e artistas, algo em que eu e o Filipe Pinto Leite estamos a trabalhar neste momento e cujos resultados esperamos poder publicar nas próximas semanas. - 10|12|2016