Por estes dias iniciei uma nova colaboração com o Jornal de Barcelos (JB). Embora as minhas ligações a Barcelos sejam residuais, acompanho com grande curiosidade o que por lá se passa. Ora, o que se passa localmente em Barcelos é deveras interessante, imperdível mesmo. Não tanto por ser o concelho do país com o maior número de freguesias, embora isso talvez seja relevante para compreender alguns fenómenos. Mas sobretudo porque os episódios que o JB nos relata são uma pequena amostra do que ocorre pelo país fora, com a vantagem de que ali esses episódios são relatados de forma mais rica, crua e, porque não, cruel quando assim é necessário. O local chama-se Barcelos mas poderia chamar-se Vila Real de Santo António, Bragança, Lisboa ou qualquer outras coisa. As nossas terras são assim mesmo: um micro-cosmos riquíssimo de freguesias, fregueses e tudo o mais onde ocorrem coisas do arco da velha que vale a pena inquirir. Quando a informação vai ao fundo das questões e se alicerça em fatos, estes tornam-se sérios e, porque não admiti-lo, nalguns casos - qual tragi-comédia da nossa contemporaneidade - são divertidos.
Comecei esta colaboração com o JB em 2005 no âmbito duma parceria institucional que lancei como vice-presidente da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho com uma rede de jornais locais e regionais do norte a sul do país, ilhas incluídas. De forma ininterrupta, durante largas dezenas de semanas foram publicados nesses jornais outros tantos artigos de vários docentes da escola. Era um modelo colaborativo original em que um mesmo artigo saía na mesma semana para um acumulado de tiragem de mais de 100 mil exemplares envolvendo, como disse, um número elevado de parceiros. O mais difícil da tarefa era convencer os meus colegas a contribuir com textos, sobretudo porque era uma colaboração não paga. Procurava dar o exemplo contribuindo eu próprio com um ou outro texto. Era, em síntese, uma forma de promover a escola e a universidade e chamar os seus docentes a comunicar com a sociedade, num modelo que muitos leitores apreciavam.
Mais tarde, já depois de ter saído do executivo da escola, e não tendo sido continuada essa parceria, dei eu próprio continuidade à publicação de textos, envolvendo outros investigadores no processo, tanto da Universidade do Minho como de outras instituições de ensino superior. Este processo decorreu entre final de 2006 e final de 2008. Já numa terceira série, a título estritamente pessoal, mantive a colaboração entre 2011 e 2014. No total, são já algumas dezenas de crónicas que publiquei no JB. E que retomo agora no início de 2017 para uma nova série, a quarta.
Faço-o num momento em que, nunca como agora, se desconfia tanto da comunicação social. Que, na verdade, anda profundamente desacreditada e sem qualidade. O debate dos meses mais recentes que nos chega dos EUA sobre fatos alternativos, notícias falsas, e duma comunicação social tradicional com agendas ocultas que a levam a uma perda abismal de influência pode ser atual naquelas paragens. Mas este drama é bem mais antigo em Portugal. Basta folhear alguns jornais para perceber que se mantém atual e bem presente. Só não vê quem não quer.
Mas precisamente porque, apesar de tudo, ainda há alguma gente séria neste negócio que procura informar com rigor e transparência, e desmascarar o que há a desmascarar, é com gosto que volto às páginas de um jornal que cultiva os valores mais louváveis do jornalismo. Neste sentido, esta colaboração é acima de tudo uma manifestação de esperança num jornalismo melhor e que bem falta faz.